01.09.23, Paulo Prudêncio
"Fui professor durante 20 anos, em contínuo. Professor do quadro desde 2006. Terminadas ontem as férias, hoje seria dia de voltar ao trabalho, na escola. Mas assim não será. Optei por sair, em licença sem vencimento, e iniciar um novo ciclo da minha vida profissional. A decisão não foi tomada por impulso, antes reflectida e ponderada, sem pressas, assegurando os aspectos legais e burocráticos necessários.
O sistema de educação, as escolas, mas principalmente os alunos e as alunas que nelas vivem e aprendem, precisam de professores entusiasmados, dedicados e empenhados, alegres, com vontade de ensinar e de aprender, de ajudar a aprender mais e melhor. E aqui reside, ou é onde se revela, boa parte do problema.
Com desencanto crescente e grande apreensão sobre o que isso representa para uma geração, para o futuro e para a sociedade em que vivemos, tenho vindo a observar, ao longo dos últimos anos, que esses professores e essas professoras estão cada vez menos assim, na escola. Os melhores professores e professoras - e são muitos/as - são-no cada vez mais em isolamento, orientando as suas energias para o mais importante, mas sempre expostos ao sistema e às suas consequências, sem conseguir ficar imunes ao que explícita e implicitamente lhes é imposto, fechando-se cada vez mais, procurando proteger-se de um ambiente que se lhes tornou hostil. Não queria e não quero tornar-me nesse professor. Desistir não é opção, assim como é loucura lutar contra moinhos de vento. A escola e a educação são importantes de mais para a construção e uma sociedade saudável, solidária, equilibrada, justa e que prepare para um mundo em mudança. É urgente cuidar da escola e da educação, mas não se pense que tal é responsabilidade ou tarefa que caiba, em primeira linha, aos bons professores. Estas são algumas das vítimas! A causa do problema tem outras raízes, parte delas bem identificadas. Será nessas que urge intervir. É uma questão de cidadania, de saúde democrática e, até, civilizacional. Como pai e como cidadão, continuarei atento, a aprender e intervir.
A questão está longe de ser pessoal. Cada um de nós é apenas um grão de areia. No entanto, coincidências acontecem e, esta semana, recebi comunicação do resultado da minha avaliação de desempenho, que solicitei no ano passado, incluindo aulas assistidas, mesmo sem dela necessitar. Obtive 10,0 em todos os parâmetros (numa escala de 0 a 10). Apesar disso, a classificaçao atribuída não foi de "Excelente", ao que teria direito, nem de "Muito Bom", antes de "Bom", devido a alegado critério de desempate por graduação profissional! Este é tão só mais um "detalhe" das perversidades que se vivem, hoje, nas escolas e no sistema de educação.
publicado às 11:23