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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

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Sociedade Plana

05.01.20

 

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Controlamos "a fome, as epidemias e as guerras" (em Homo Deus de Yuval N. Harari), mas enfrentamos desafios igualmente difíceis: migrações em massa, alterações climáticas ou ascensão de forças políticas extremistas. Para além disso, aumentam as desigualdades entre os mais ricos e os restantes porque a riqueza acumulada numa minoria não é taxada nem redistribuída. Não há crescimento económico que provoque a "maré enchente que subirá todos os barcos" porque os governos não têm meios para contrariar o neoliberalismo em modo global e agrava-se porque a história da distribuição da riqueza é política. Apesar da globalização ter permitido esse inédito controle da fome, das epidemiais e das guerras, há uma ganância em roda livre. 

A história contemporânea inscreve o triunfo do liberalismo de Milton Friedmanque derivou para um neoliberalismo de poderes não sufragados. A fuga aos impostos, inspirada na visão de que o capital privado exercia melhor a responsabilidade social do que os estados, "deslegitimou-se" porque a crise de 2008 - e os processos "leaks" -, abanaram o modelo offshores. Resta aos governos ocidentais taxar, com impostos directos e indirectos, as classes médias que pagam as dívidas e os juros que "aprisionam" os orçamentos dos estados. A prazo, as sociedades terão mais muito ricos (até 5% da população) e aumentarão exponencialmente os precarizados como membros de uma classe média baixa que não terá qualquer capacidade de poupança. Será uma sociedade plana, sem elevadores sociais, e vulnerável ao tal voto de protesto que se torna incontrolável quando toma o poder. É, de certo modo, semelhante às duas décadas que antecederam a segunda-guerra mundial e que registaram o florescimento da extrema-direita na Europa com os resultados que a história regista; e por optimistas que possamos ser com o controle da fome, das epidemias ou das guerras, são imprevisíveis as consequências da ascensão ao poder de forças de extrema-direita com os meios tecnológicos actuais e futuros. É que ainda por cima têm argumentos que deviam pesar a consciência do mainstream: acusam "Washington e Bruxelas de criarem uma sociedade de oligarcas e servos" e prometem estados-nações de cidadãos "com salário digno, propriedade e capital". Poderá ser como projecta Yuval N. Harari: "a história começou quando os homens inventaram deuses e terminará quando os homens se transformarem em deuses".

Nota: os mentores da sociedade plana recordam-me os defensores da terra plana, na imagem, que encontrei na internet: "para os defensores da Terra Plana, todos mentem: os astronautas, os cientistas, os media. São(...)também youtubers. E já ganham muito dinheiro com as suas teorias."

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