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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

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O trumpismo não pode condenar as eleições em Moçambique ou na Venezuela

12.11.24, Paulo Prudêncio

Um defensor do trumpismo não pode condenar as eleições em Moçambique ou na Venezuela. Ou melhor: pode, porque um entusiasta de Trump pode defender tudo e o seu contrário.

Vamos lá repetir o óbvio.

Como ponto prévio, sublinhe-se que Trump venceu, em 2024 e inequivocamente, as eleições presidenciais nos EUA. A transição de Biden para Trump decorrerá democraticamente. Biden respeitará as regras. Em 2020, Trump perdeu para Biden. Não aceitou os resultados, nem apareceu na posse de Biden, apesar da sua equipa o ter informado da legitimidade inquestionável de todo o processo.

Portanto e qualquer que seja o ângulo de análise, há um receio fundamentado com a fragilidade da democracia. Agrava-se com os triunfos da boçalidade e do capitalismo selvagem. Dividem as classes médias e baixa - estimulando lutas de ódio e aplicando programas massificados de meritocracia kafkiana -, enquanto sorriem com o aumento brutal do saldo bancário. O triunfo é sofisticada. Apropriou-se, magistralmente, da agenda dos partidos que têm governado (a ganância tem o dom da ubiquidade). Virou, naturalmente, ressentidos e excluídos contra um sistema promovido, imagine-se o requinte, pelo capitalismo selvagem, que conseguiu que os vencimentos ajustados à inflação sejam actualmente inferiores aos praticados há 30 anos (ou mesmo 50 anos em algumas democracias ocidentais).

E se a democracia não dispensa o seu valor fundador - a liberdade em respeito pela liberdade do outro - também exige que o voto se exerça em eleições livres e justas com o primado da lei.

Pois bem e repita-se com mais detalhe: o comportamento de Trump em relação aos processos eleitorais é delinquente e seria deportado se fosse imigrante. Como agora venceu, achou robusto o processo eleitoral dos EUA. Quando perdeu, como em 2020, "pediu ao secretário de Estado da Geórgia, republicano, que encontre os votos necessários à sua vitória" e pressionou "Mike Pence, o antigo vice-presidente dos Estados Unidos, que ouvido sob juramento sobre a invasão do Capitólio e na qualidade de presidente do Senado, declarou que foi alvo de pressões de Donald Trump para rejeitar a confirmação da vitória de Joe Biden na eleição de 2020."

De facto, centenas de invasores do Capitólio foram presos. Trump não. Usou, apenas para si, o endinheirado apelo interminável para instâncias superiores. Pode, agora, escapar desse e doutros crimes federais (mas ameaçou o processo de 2024 até perceber que ganharia as eleições). 

Portanto, Trump acha natural falsificar documentos (actas, votos e por aí fora) para vencer eleições, como se observa em Moçambique e na Venezuela. Na campanha eleitoral de 2024, Trump absolveu e elogiou Maduro. Provavelmente, o capitalismo selvagem conseguiu uma boa oportunidade de negócio na energia. Dá ideia que acontecerá o mesmo em Moçambique, se o negócio da energia o justificar (há factos de fraude eleitoral na província rica em matéria de energia).

Duas notas:

1. Olhe-se para os números de quem votou nos EUA em 2016, 2020 e 2024, num sistema em que as vitórias podem ser mais geográficas do que demográficas:

em 2016, 65 milhões em Hillary Clinton contra 62 milhões em Trump; venceu Trump; tomou posse na presença de Obama;

em 2020, 81 milhões em Joe Biden contra 73 milhões em Trump; venceu Biden; tomou posse na presença de Pence por ausência de Trump;

em 2024, 71 milhões em Kamala Harris contra 74 milhões em Trump; venceu Trump; tomará posse na presença de Biden;

9 dos 10 milhões que Kamala Harris perdeu em relação a Joe Biden abstiveram-se.

2. A apreensão adensa-se. Dá ideia que nos EUA se fragilizarão os pesos e contra-pesos. Será, no mínimo, um teste de stress. Terá resultados imprevisíveis no respeito pelos limites e separação dos poderes, com efeitos nos negócios ligados à indústria da guerra (que envolve a internet e as gigantes tecnológicas, áreas de negócio que interessam a plutocracias e autocracias) e na segurança das democracias ocidentais que têm, no seu conjunto, um número muito apetecível de consumidores.

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