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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Por que é que reprovam tantos alunos?

25.11.18, Paulo Prudêncio

 

 

 

Quem lê o relatório "Estado da Educação 2017" do Conselho Nacional da Educação (da Educação, sublinhe-se) conclui que a culpa por reprovarem tantos alunos está na escola. E o debate à volta dos números elevados, e eternos, do insucesso e abandono escolares (3 crianças em cada 100, logo no 2º ano) apontou a causa que originou a perplexidade de muitos: organização do 2º ciclo. O CNE nunca debate a educação não centrada na escola e é uma pena. Portugal tem, e como alguém disse, uma "escola transbordante".

Se não se discute a educação por falta de temas modernos, podemos ajudar. Perceba-se porque é que especialistas das empresas de Silicon Valley escolhem escolas que não usam computadores e afins antes dos 13 anos e eliminam as tecnologias das funções de babysitter. Sublinham os efeitos negativos nas aprendizagens nucleares e duas supressões: tempo com as crianças e "brincadeiras de rua". Por outro lado, Paddy Cosgrave, da Web Summit, salientou as vantagens para a sua equipa (e surpreendeu os arautos da selva laboral) num contrato de dez anos com Lisboa: "construir uma carreira e estabilizar a vida". Ou seja: crianças viciadas em tecnologias e pais precários, com muita mobilidade ou sem tempo, comprometem dois factores educativos decisivos: aprendizagens essenciais e crianças-não-agendáveis com direito à lentidão. E depois há aquele flagelo, também eterno e indiscutível, de 2 milhões e meio de pobres em 10 milhões de habitantes.

Claro que continuam as turmas com três dezenas de alunos e o afunilamento dos currículos e dos ambientes organizacionais. Mas até isso é invisível para o CNE. Já agora, e tergiversando ligeiramente, o "novo" CNE identificou de entrada (2016) que "(...)entre as tarefas que desviam os professores da sua “missão essencial”, figuram “a sobrecarga de reuniões e de múltiplas tarefas de natureza burocrática”(...)que as condições dos docentes tornaram-se mais difíceis(...)registam-se mais processos de stress e burnout (exaustão)." Apesar da situação se ter agravado, a sensibilidade do CNE só se comove com a tal estrutura do 2º ciclo.

Só mais uma nota: flexibilizar o currículo - ou as ideias de "área-escola" e "área de projecto" -, é um desejo antigo anterior às "novas" tecnologias, inspirado na integração de saberes e na necessidade de ir além da escola-indústria e das ideias "back to basics". Catalogar a interdependência dessas categorias, flexibilização e uso de tecnologias, é desconhecer a história da pedagogia. É óbvio que o uso sensato das tecnologias as transforma em ferramentas muito interessantes.

Imagem (tratada) obtida na internet sem referência ao autor.

 

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