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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

os discriminados

01.07.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

Nasci na então Lourenço Marques e ouvia com frequência que era branco de segunda (verdade se diga que só após o primeiro inverno europeu é que percebi que não era o moreno que me achava) e que mesmo como português não seria um eleito.

 

Mais tarde, percebi que os que me apontavam como retornado após a fuga de Moçambique mais pareciam indígenas saídos de um país que tinha adormecido na modernidade do meu tetravô. Quase 40 anos depois, esse país apontador não é o mesmo por obra de milhões de formigas. É claro que não haveria fábula sem as inevitáveis cigarras.

 

Dito isto e para salientar que já sorrio (sempre fui um pouco assim) com discriminações que me incluam até com as que são repetidas por quem governa Portugal. Passos, Relvas, Gaspar e Portas foram incansáveis em fazer coro com quem nos classificava como PIGS, gastadores, piegas, preguiçosos, propensos à emigração e outras coisas mais desagradáveis. Terão razões para isso. Os espelhos servirão para alguma coisa, mas já lá vou ao assunto.

 

Li hoje no Público a entrevista do primeiro-ministro finlandês. É um tipo de 41 anos, de direita, condescendente com os para além da troika e, se não houve lapsos de tradução, com algumas certezas absolutas. Uma delas é que Portugal vai no caminho certo e que não é justo que, mesmo numa moeda única, cada um não pague pela sua condição. Deve ser um tipo exemplar e severo nos costumes.

 

Se foi Mitterrand quem tudo fez para que com a criação do euro a Alemanha ficasse "impedida" de provocar outra guerra mundial, talvez seja o poder vigente alemão quem usa o euro para impor de novo uma espécie de imperialismo. Quem diria. Cada vez se percebem mais as carradas de preconceitos que inundam as mentes dos anti-eurobonds.

 

O que se vai observando (e que muitos não se cansavam de sublinhar) é que os europeus são mais parecidos do que se supunha e até na preguiça, na corrupção, na utilização fraudulenta de paraísos fiscais, na produtividade e por aí fora. O que mais aborrece é termos governantes que se apressam a acusar os seus e depois dão os exemplos que se conhecem. Os ajustes directos do Governo português para se estudar mais do mesmo ou o uso dos grandes escritórios de advogados são um insulto à inteligência das pessoas e explicam a baixa auto-estima profissional dos governantes. A falta de patriotismo é uma das consequências e foi pena não se ouvir o primeiro-ministro finlandês sobre o assunto.

 

A corrupção desgraçou-nos e à Europa também. O centro do velho continente está também infestado de maus exemplos. Por outro lado, há inúmeros portugueses que se orgulham de o ser e do seu grau de profissionalidade e não os vejo a apontar o dedo às comunidades que param de laborar às 15h00 ou que se embebedam às sextas por sistema (as lojas de produtos alcoólicos são blindadas) e por aí fora. Somos mais cabisbaixos, sem dúvida, mas devíamos ser representados por quem não tivesse vergonha da sua nacionalidade.

 

Post de 14 de Abril de 2013.

 

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