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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

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"O proceeeeeeeeeeeeeeeeeesso"

27.11.22, Paulo Prudêncio

Captura de ecrã 2022-11-27, às 13.04.50.png

Li este texto na edição impressa; muito interessante e humorado. Também está online. É certeiro: uma justiça ineficaz, ou demasiado lenta, adoece a democracia. A propósito, dizia-me um amigo que recusou o convite, há uns quatro anos, para dirigir um departamento de uma Câmara Municipal do eixo Lisboa/Cascais que tem um presidente que até já esteve detido: "quero distância desses ambientes". Aliás, o meu amigo sublinhou-me que esse presidente declarou recentemente que os casos actuais com a justiça "ocorreram, de uma maneira geral, há mais de 15 anos e que apenas em 2017 foi constituído arguido e que é agora acusado do crime de prevaricação de cargo político punível com pena de dois a oito anos".

E o meu amigo relatou-me outra recusa recente de distância desses ambientes. Queriam novamente que fosse candidato a um cargo público em que quem o ocupa pode ser a qualquer momento acusado por comprovada falsificação grave de documentos curriculares. Dizia-me o meu amigo: "ainda me detinham por engano; e se dizia que não era eu, pensavam que eram mais mentiras e nunca mais saía da cadeia". Deu para rir um bocado, mas não fui capaz de contraditar a possibilidade do absurdo.

Pode ler a parte inicial - a que a versão online permite partilhar - do texto de Ricardo Araújo Pereira. Claro que vale mesmo a pena ler até ao fim.

"Kafka morreu muito novo, mas mesmo que vivesse o dobro teria dificuldade em concluir um livro sobre um Joseph K. português.

Quando falamos da existência trágica de Franz Kafka é importante não esquecer que podia ter sido pior. Ao menos, ele não viveu em Portugal no século XXI. Uma coisa é escrever sobre a desumanidade da máquina judicial em Praga, no início do século XX. Outra é descrever um processo em Portugal, em 2022. Em vez de 300 páginas, o livro teria 30 mil. Kafka morreu muito novo, com apenas 40 anos, mas mesmo que vivesse o dobro teria dificuldade em concluir um livro sobre um Joseph K. português. Veja-se, a título de exemplo, o caso do cidadão Duarte L. Em 2009, Rosalina Ribeiro foi assassinada a tiro no Brasil. Em 2011, Duarte L. foi acusado do seu homicídio. Em 2022, o julgamento de Duarte L. ainda não começou, por um motivo bastante kafkiano: as testemunhas brasileiras ainda não foram notificadas. Notem que o problema não é o facto de as testemunhas ainda não terem testemunhado. O problema é não terem ainda sido chamadas a testemunhar. Não sei se já disse, mas a acusação tem 11 anos. O polícia Aurílio Nascimento, que conduziu a investigação no Rio de Janeiro e é uma das testemunhas, tentou ser notificado, mas não conseguiu. Ingenuamente, enviou uma mensagem por correio electrónico ao Tribunal de Sintra a explicar o modo como poderia ser finalmente notificado. A mensagem foi devolvida porque ele não tinha indicado o número do processo. Se uma pessoa quer facilitar a vida à Justiça portuguesa tem de se esforçar muito mais.(...)"

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