o erro crasso de Crato
O dever de uma liderança é visionar e antecipar o futuro e escolher a estratégia. A questão escolar portuguesa passa por alargar o ensino regular a todos até ao final do secundário, mas pensar um ensino básico e secundário ecléctico em que as "disciplinas estruturantes" estejam em igualdade curricular com as humanidades, com as "expressões" e com as outras ofertas de uma sociedade em pleno movimento.
A relação entre a selecção precoce de disciplinas "estruturantes" e o aumento da ciência, da qualidade da formação das pessoas, do número de membros da classe média e da riqueza dos países é inversa e proporcional. Os países mais ricos e democráticos eliminaram a opção pelo "ler, escrever e contar" (LEC) por três motivos principais:
1. perceberam que 60% do sucesso escolar está na sociedade e 40% na organização escolar;
2. reconheceram que os alunos que "querem aprender" fazem-no em qualquer sistema, e independentemente da carga curricular nas LEC, porque beneficiam da ambição escolar das famílias ou de boas condições socio-económicas;
3. instituiram como desafio primeiro elevar os que "não querem aprender" ao ensino superior.
Foi isso que o mediatizado sucesso polaco explicou. Começaram por inverter a lógica "vocacional" no terceiro ciclo (à saída da primária como eles dizem) e conseguiram aumentar para 60% (eram 10% vinte anos antes) as matriculas no ensino superior e pasme-se: melhoraram muito os resultados nos testes internacionais. A sério: até parece a história portuguesa antes da chegada de David Justino, Lurdes Rodrigues e Nuno Crato. O último foi mesmo um erro crasso.