não dão aulas, dão minutos
Uma aula foi de 50 minutos durante décadas. Em 1998, decidiu-se que era preciso "tempo de aula" e inventou-se a sessão de 90 minutos contabilizada como 2 aulas. Como havia disciplinas com 1, 3 ou 5 aulas semanais, criaram-se aulas de 45 minutos. Ou seja, a redução de 50 para 45 originou um irresolúvel imbróglio de 5 minutos (a bancarrota cíclica também tem causas endógenas) que transitou entre governos até Nuno Crato. Aí, os professores passaram a dar minutos em vez de aulas numa eloquente homenagem, em nome dos sucessivos ministros da educação, ao espírito anti-simplex. Gerou-se uma tortuosa contabilidade que os agentes escolares tentaram ignorar.
Quem lê o "despacho de flexibilização curricular" (blogue "Escola Portuguesa" de António Duarte) fica apreensivo. Por distracção ou desconhecimento, as matrizes curriculares projectam aulas de 50 com aulas de 45 em disciplinas do mesmo ciclo; a confusão será idêntica em ciclos diferentes que usem os mesmos espaços. Mas por que é que não se acaba com os horários ao minuto? Alunos, disciplinas e professores têm x aulas semanais (45 ou 50, ou 50 e ponto final) e ponto final. E as reduções dos professores? Se um professor lecciona 22 ou 25 aulas semanais, o seu posicionamento na carreira, e a sua idade, reduz-lhe y aulas por semana. Mas é preciso estudar regressões lineares múltiplas para simplificar estas variáveis? Entristece-me a sucessão de oportunidades perdidas. Ainda sobre o despacho (salvaguarda-se que é um projecto e que será testado - estarão em vantagem as escolas que o experimentem criticamente -), observa-se o "linguajar bem pensante dos excessos das ciências da educação", que persiste e aglutina o que tem más provas dadas, que se tornará um pesadelo em associação com os "atavismos das ciências da administração".