nada para mudar na escola?
Há, desde logo, uma questão de financiamento, e de conceitos, a rever: a lei é clara: a escola pública, financiada integralmente pelo Estado, pode exercer-se em dois modos de gestão: directamente pelo Estado ou através de cooperativas de ensino. As segundas, que por princípio normativo só podiam existir nas zonas onde não chegava a rede de escolas públicas geridas directamente pelo Estado, adulteraram a sua função. Com a chegada ao sistema dos descomplexados competitivos vocacionados para a privatização de lucros através do orçamento de Estado, as escolas geridas pelas cooperativas afirmaram-se como privadas numa concorrência também desleal para esse tipo de ensino financiado integralmente com as propinas dos utentes. Ou seja, deixou de fazer sentido a designação de dois tipos de escolas públicas financiadas pelo Estado e isso deve ser legalmente revisto.
Mas há um discurso que remete para a exaustão com as mudanças, apesar do que levamos de milénio marcar o sistema escolar por descidas mais do que comprovadas: cortes curriculares a eito, mais alunos nas turmas, modelo, mega, de gestão escolar sem paralelo no mundo civilizado, perda de autonomia das escolas, rede escolar com desperdícios financeiros inadmissíveis, teias burocráticas (analógicas ou digitais) consumidoras de energias vitais, péssimo modelo de avaliação de professores, concursos de professores pejados de injustiças e irregularidades, estatuto da carreira dos professores completamente desestruturado e por aí fora. Afirmar que nada disto deve ser mudado porque as gerações que governam estão acomodadas, cansadas ou desiludidas, é manifestar uma desistência perigosa para a democracia e caracteriza uma sociedade que parece caminhar para uma convulsão com data anunciada.