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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

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Mas É Isto Que As Escolas Fazem Há Décadas

14.11.19, Paulo Prudêncio

 

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Afinal, o fim das reprovações no ensino básico não significa a "eliminação dos chumbos, mas um trabalho de acompanhamento mais próximo dos estudantes que revelam mais dificuldades.", disse Tiago B. Rodrigues ao Público. Mas é Isto que as escolas fazem há décadas. É saturante este discurso circular que instala ruído comunicacional. Quem não acompanha estes assuntos pensará que um professor que é crítico destas ideias não é progressista nem a favor da igualdade de oportunidades. O que os professores sabem, e se cansam de prever, é que este discurso acaba sempre nos culpados do costume: os professores. O ministro podia dizer outra coisa: a sociedade tem de acompanhar mais as pessoas e gerir melhor o território, para que as crianças sejam bem sucedidas na escola.

Há décadas que os estudos explicam o insucesso e abandono escolares, como também sublinham que não há escola na Europa com uma missão tão impossível como a nossa. A escola portuguesa é tudo. É como se não existisse sociedade. Não será por acaso que continuamos com os piores registos da OCDE no insucesso e abandono escolares (isto também se lê no PISA). Repito uma evidência que também tem "quase uma década".

As sociedades com mais ambição escolar, e com meios económicos que a sustentem, atingem taxas mais elevadas de sucesso escolar. É irrefutável. Podíamos atribuir a essa condição uma percentagem próxima dos 90%. Ou seja: se conseguíssemos sujeitar as mesmas 100 crianças a uma escolaridade em duas sociedades de sinal contrário, os resultados seriam reveladores. Deixemos esta responsabilidade nos 60% para que sobre espaço para os outros níveis.

Se testássemos os mesmos 100 alunos em escolas com organizações de níveis opostos mas na mesma sociedade, esperar-se-iam resultados diferentes. Todavia, essa diferença não seria tão acentuada como no primeiro caso. As condições de realização do ensino (clima escolar, disciplina, número de alunos por turma e na escola, autonomia da escola, desenho curricular, meios de ensino) influenciam em 30% e são mais significativas do que o conjunto dos professores.

Se os mesmos 100 alunos cumprissem duas escolaridades, na mesma sociedade e organização, com 100 professores diferentes, os resultados oscilariam muito pouco. É neste sentido, abrangente, histórico e generalista que se deve considerar os 10% atribuídos aos professores.

É por isso que é um logro que uma sociedade com baixos níveis de escolaridade consuma as suas energias à volta do desempenho dos 10% ou sequer se convença que tudo se resolve mudando o conteúdo físico dos 30%. Mas mais: por paradoxal que pareça, sem os 10% não há ensino. O que é fundamental concluir é que as componentes sociedade e pobreza são decisivas. E isso não significa que a escola portuguesa tenha (ou deva) cruzado os braços; bem pelo contrário.

Nota: numa rápida pesquisa sobre o tema na actualidade, encontra-se de imediato a concordância "programática" de David Justino (um dos percursores do "tudo está mal na escola pública").