Excesso de memória
"Tenho dificuldade em ter opinião sobre o conflito israelo-palestiniano por causa do excesso de memória que parece impedir a paz", ouvi num podcast esta explicação interessante. É que, realmente, a interminável contenda tem milénios. E nos argumentos, acrescentou-se mais ou menos assim: "conversando com os beligerantes, percebe-se que factos passados há dois mil anos são relatados como se tivessem acontecido ontem; e depois, há milhares de factos, e que factos, e de razões".
E lembrei-me disto, e sem sequer estar a comentar o conflito israelo-palestiniano, quando estava a escrever um texto sobre a luta dos professores. De repente, pareceu-me que já tinha abordado aquele assunto. São tantos anos a desconstruir as mesmas políticas, que há um excesso de memória que agrava o conflito. Torna-o interminável, com sérios prejuízos para o exercício de professor como valor inalienável da democracia e da elevação da escola pública; e se os governos mantêm a inércia, em associação com a plataforma de sindicatos e com os fingimentos negociais, o avolumar da memória dificulta tudo. 1ª edição deste post em 21.04.2023.