Em Paralelo Com A Especulação Imobiliária
Com propinas que chegam aos 20 mil euros por ano, os colégios internacionais passaram de 9 (com 3800 alunos) em 2010 para 18 (com 8400 alunos) em 2021. A expansão acelera e já não se circunscreve ao eixo Oeiras-Cascais. O centro de Lisboa é objecto de "nova onda de escolas internacionais" que vão do 1º ao 12º anos. "Os portugueses procuram também estas escolas que lhes dará acesso às mais prestigiadas universidades". Relacionem-se estes factos com a especulação imobiliária nas mesmas zonas e com as causas da falta de professores nas escolas públicas. É óbvio que os professores que mudam do privado para o público não leccionam, em regra, nestas escolas.
Recupero parte de um texto (Do aumento brutal das desigualdades educativas) que escrevi há tempos (20.01.2022) para o Público.
"Em Nova Iorque, tutores privados para estudantes do ensino secundário cobram 600 a 1000 dólares (530 a 880 euros) por hora. Nas escolas privadas de elite nos EUA o investimento é de cerca de 75 000 dólares (66 200 euros) anuais por estudante, enquanto na escola pública é de apenas 15 000 dólares (13 200 euros). A desigualdade educacional é maior do que no Apartheid americano em meados do século XX. Nas universidades de elite é ainda mais dramático. As faculdades de Harvard, Princeton, Stanford e Yale matriculam colectivamente mais estudantes dos 1% mais ricos do que dos 60% inferiores"
Estes factos, apresentados por Daniel Markovits, professor na Universidade de Yale, são fundamentais para se perceber o aumento brutal das desigualdades educativas. Agrava-se ao concluir-se que o talento e o esforço não são tão decisivos no elevador social como o investimento financeiro. Como a elite investe quantias avultadas e inéditas na educação dos filhos, a diferença entre a classe rica e as restantes aumenta rapidamente em simultâneo com o empobrecimento da classe média; e uma classe média crescente, consistente e maioritária é decisiva na democracia.
Num assunto desta dimensão, Daniel Markovits escolhe o número de alunos por turma como a outra variável educativa que explica o aumento brutal das desigualdades. Por exemplo, a estrutura escolar que desde o pré-escolar desagua na Universidade de Princeton (financiada por uma fundação de caridade isenta de impostos mas que também usa fundos públicos) tem uma média colossal de oito alunos por turma. O primeiro passo na redução das desigualdades seria aumentar para dezasseis - um limite máximo aceitável - deixando oito vagas para os estudantes das escolas públicas da mesma zona geográfica, precedido, obviamente, do aumento do investimento na rede pública de escolas.