![]()
Vi e recomendo a peça, do Teatro da Rainha, "Definitivamente as Bahamas" de Martin Crimp com encenação de Fernando Mora Ramos. É um retrato demolidor de uma classe média perdida e composta por pessoas sem vida própria. É interessante que o texto passe pelos mesmos locais e hábitos que Mark Behr visitou no seu inesquecível "Cheiro das Maçãs" a propósito da África do Sul, dos bôers e do apartheid.
Milly - Ele quer dizer Canárias
in Definitivamente as Bahamas
Estas Bahamas são de pacote e uma pista anedótica - para que é um título? São um não lugar, a confirmação mental de uma imagem de postal. Numa trama quotidiana, marido e mulher vão-se revelando como a prisão um do outro, o espaço da intimidade é um território de desafectos e preconceito. É este o olhar de Crimp sobre a classe média que retrata no seu autocentramento familiar pequenino. Se fosse este o fim da história – e sabemos que não, nunca foi – a tal civilização a que chegámos teria apenas feito um caminho em direcção à suprema mesquinhez do consumo e mercancia. Classe média Completamente média, sem dúvida e abrangente, isto é, média nas partes mais altas e baixas também. Crimp faz a dissecação disso mesmo, da identidade da média, com mestria cirúrgico dramática.
![]()