De Escola Segura a Tema Central da Pandemia
14.03.21, Paulo Prudêncio
A saga da escola tornou-se um exemplo do natural desnorte provocado pela pandemia que deve servir de lição para o futuro. O distanciamento histórico permitirá muitas leituras significativas. Mas há dados já consolidados. Por exemplo, a repetida irresponsabilidade da "escola é segura" deu lugar a um quebra-cabeças que ocupou o lugar central dos debates. A comparação com outros países foi recorrente, mas sem se discutir dados essenciais sobre as condições escolares com o objectivo de assegurar o mais possível o ensino presencial.
E podemos consultar a OCDE que não será considerada antipática para os governos Europeus; muito pelo contrário. O relatório “The impact of Covid -19 on Education- Insights from Education at a Glance 2020” analisou oito indicadores fundamentais nas consequências da pandemia nos sistemas escolares: 1. Investimento público em educação; 2. Mobilidade de estudantes internacionais; 3. Perda de tempo lectivo; 4. Medidas para ensinar durante fecho das escolas; 5. Capacidade dos professores para apoiar o ensino digital; 6. Momento de reabertura das escolas; 7. Número de alunos por turma; 8. Ensino profissional durante a pandemia.
E o ponto 7, número de alunos por turma, foi o factor determinante; e é estruturante para o futuro, desde logo, do ensino presencial, mas também para alternativas à distância. Foi essencial nos tais 3 c´s dentro e fora da escola. Repare-se nas conclusões da OCDE: "o número de alunos por turma constitui um parâmetro crítico no ensino presencial, já que a distância social provou ser a medida mais eficaz na prevenção do contágio da covid-19.(...)registou-se, em vários casos, um limite de 15 alunos por turma no 1º ciclo ou um número, em todos os ciclos, que garantiu 1 a 2 metros de distanciamento nas salas de aula(...)num contexto de turmas reduzidas, para que todos os alunos tenham a oportunidade de beneficiar do ensino presencial, escolas em cerca de 60% dos países membros e parceiros da OCDE organizaram turnos nas turmas para alternar a presença dos alunos(...)"; e Portugal é uma nação de turmas numerosas.
Também se percebe que as regiões mais pobres da Europa (dos 15 milhões de pobres na Europa, 2 milhões estão em Portugal), ou que historicamente cometeram erros graves no planeamento da rede escolar, são as que registaram mais turmas numerosas; e a pandemia terá incidido maioritariamente nessas populações. Por isso, a nossa apreensão com a reabertura das escolas não é apenas com a incerteza nas testagens maciças, nos rastreios e na vacinação dos profissionais. A apreensão reforça-se na inércia em relação às condições de realização das aulas presenciais. E essa inacção coabita com uma espécie de buraco negro comunicacional que suga o essencial para tentar torná-lo invisível e dar lugar ao marketing político manipulador; em vão, como se viu, e com efeitos desorientadores e nefastos. Resta-nos desejar que se acelere e consolide a janela de esperança aberta pela vacinação e saúda-se o facto das manchas de pobreza terem beneficiado dos fundos europeus e dos confinamentos que permitiram um maior distanciamento em relação ao vírus.