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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

das máquinas e das engrenagens (posts intemporais)

19.05.14, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

 

 

 

"A máquina dos exames está ponta", sentenciou Nuno Crato na abertura de um telejornal que antecedeu a célebre greve ao exame do 12º ano de 17 de Junho de 2013 e depois de uma inenarrável trapalhada com o ministro aos papéis nas negociações com os sindicatos de professores. Terminou a sua declaração daquele modo e não me surpreendeu. Aquilo a que Nuno Crato chama máquina é um monumental edifício burocrático que engole o esforço de milhares de professores, dos secretariados de exames aos correctores e vigilantes, comandados por uma estrutura central sediada no MEC e que é o exemplo mais acabado dos procedimentos que devem ser implodidos e que está o mais distanciada possível das salas de aula.

 

Abrir telejornais com resultados de exames é próprio de sociedades ausentes e imaturas, onde esse basal exercício docimológico, testar aprendizagens, adquire estatuto de arremesso político.

 

Como o Paulo Guinote descreveu aqui, a máquina dos exames avolumou-se com Nuno Crato e soma requintes como os descritos no parágrafo que se segue:

 

"(...)Basta um aluno requerer a realização de provas de equivalência à frequência por ter faltado quase todo o 6º ano e ter anulado a matrícula e é colocada em movimento uma máquina trituradora de tempo e recursos: pelo menos 2 professores por disciplina para produzir cada prova a nível de escola e, no dia da realização, 3 a 5 pessoas do secretariado, 2 vigilantes e 1 coadjuvante, mais uma dose industrial de registos a assinar para comprovar que todos estiveram lá à entrada e à saída, não esquecendo ainda 1 ou 2 professores para a classificação da prova escrita e parafernália equivalente se existir prova oral.(...)"

 

 

Alunos e professores olham incrédulos para a tragédia que se anuncia com os piores resultados de sempre nos exames deste ano como se anuncia aqui ou aqui, Não compreendem tanta surpresa.

 

Não vou cair na facilidade de agarrar nesses resultados para traçar o plano inclinado que vive o sistema escolar. A uma sociedade já ausente acrescentou-se um terrível empobrecimento e a isso somou-se o aumento do número de alunos por turma, o afunilamento curricular para privilegiar o atávico mais do mesmo, o desespero profissional de todos os professores e o modelo de gestão escolar mais desaconselhado do mundo conhecido.

 

É evidente que tudo isso empobrece com melhores ou piores resultados num ou noutro exame. E só se faz disto notícia e argumento político porque os ministros da Educação habituaram-se a fazer o exercício contrário quando lhes deu jeito e Nuno Crato não foge a esse facilitismo. Ou seja: Nuno Crato é vítima das suas próprias epifanias, como se previa com facilidade e desgraçadamente para o sistema escolar. E o que mais custa é ouvir o mainstream a esquecer-se de tudo o que foi dito para apontar o dedo aos do costume.

 

 

 

 

1ª edição em 16 de Julho de 2013.

 

 

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