Da lei de ferro das oligarquias; e como estamos quase dez anos depois?
Em 2014, escrevi assim:
É indisfarçável: qualquer troca de opiniões sobre política tem conclusões comuns: os poderes financeiro, económico, comunicacional e tecnológico apoderaram-se da democracia; os políticos profissionais já nem se caracterizam pelo apego à cor partidária: sobrepõe-se o interesse pessoal.
No dia 22 de Abril de 2014 viajei de automóvel entre as Caldas da Rainha e Lisboa. Ouvi na antena 2 uma entrevista a um recém-doutorado (pareceu-me que se apresentou como politólogo, mas não fixei o nome) sobre a lei de ferro das oligarquias (LFO) nos partidos políticos. Googlei o assunto. A matéria passou ao lado dos média mainstream. O conceito LFO foi primeiramente observado por um sociólogo alemão (Robert Michels) no início do século XX. Explicava o modo como se escolhiam as liderança partidárias nos partidos de governo. Mais do que os eleitores em geral ou os militantes partidários, as escolhas que originam as chefias dos governos são determinadas pela LFO.
O doutorado português olhou para o nosso momento e encontrou a LFO nos principais partidos aos mais diversos níveis. O PS e o PSD têm as oligarquias muito estruturadas.
Estas conclusões não são uma novidade. Parecem naturais e capazes de proteger as sociedades dos populismos. Partidos políticos, sindicatos e inúmeras organizações abertas são basilares para a democracia; e até os agrupamentos secretos.
A História diz-nos que os diversos tipos de sociedade tiveram um destino comum, por mais elevados que fossem os princípios ideológicos: o colapso. A dificuldade em fiscalizar a ganância deitou tudo a perder. Diito de outro modo, a prevalência do mal, e a sua construção sistémica, originou as quedas.
Percebe-se a preocupação com o estado da nossa democracia. Espelha-se nas mais variadas latitudes. A promiscuidade entre partidos e sindicatos, e entre os citados e as organizações secretas ou do mundo financeiro, associada à sofisticação tecnológica e comunicacional, entrou em roda livre. A incapacidade para mudar o estado das instituições existentes aumenta o receio de que a queda só termine com uma grande convulsão.
E como estamos quase dez anos depois?