Da Interdisciplinaridade
É antiga a crítica à escola-industria e muito raramente as escolas escapam à normalização de horários, de currículos e por aí fora. É um assunto muito interessante, que está sempre à mercê de "cíclicos inventores da roda" e que exige muitos caracteres. Por exemplo, a ideia em curso de tentar implementar uma "interdisciplinaridade sem financiamento" é semelhante à área-escola do início da década de noventa do século XX que desaguou na área de projecto no fim dessa década para permitir sensatez e um mínimo de exequibilidade.
Recorro muitas vezes a este post (onde por ler vários remédios) que começa assim:
A febre reformista no sistema escolar em Portugal não é nova: é mesmo imparável. O que é engraçado, e com o passar do tempo, é que vemos recuperar ideias antigas como se fossem novidades. Parece um percurso circular.
Escrevia, algures em 1998, uns textos para uma revista sobre educação e o coordenador pediu-me que inscrevesse algumas ideias sobre reformas. Lembrei-me dos remédios. Fui ler a literatura do “Benuron” - medicamento para todas as dores e para todas as maleitas gripais e constipais - peguei no seu modelo organizativo e fui andando. Foi uma noite bem passada. 20 anos depois, e aproveitando as competências do blogue, publico-as de novo.
O remédio interdisciplinaridade diz assim:
Interdisciplinaridade.
Registo da patente: acredita-se que teve início da década de 80, mas sem registo da patente devido à provisoriedade dos diversos governos de então.
Composição: a plenitude dos saberes integrados.
Indicações terapêuticas: eliminar todos os bloqueios que impedem a comunicação entre os diversos saberes.
Contra-indicações: o seu tempo de eficácia é cirúrgico (julga-se que o medicamento é desconhecido por quem se dedica a fazer programas escolares).
Precauções especiais de utilização: quando utilizada de forma demasiado optimista pode provocar sérias indigestões aos alunos de todos os escalões etários.
Prazo de validade: resiste a várias intempéries; provoca inúmeros seminários e colóquios sobre a problemática dos prefixos, inter, trans, pluri e multi?; rapidamente pode mudar de nome e transformar-se, ainda, em algo compulsivamente quase obrigatório (área escola) ou mesmo obrigatório (área de projecto).