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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Da Falta de Professores ao Estado do Século XXI (o dever da repetição)

22.09.22, Paulo Prudêncio

(Publicado pela 1ª vez em 13 de Outubro de 2018)

Já faltam professores. Quando o inverno se impuser, e o cansaço se acumular, haverá falta de candidatos às substituições. Era previsível. Foi mais de uma década a descer. Sejamos claros: somos um país pobre (em grande parte por causa da "surpreendente dimensão" da corrupção - palavras da ex-PGR -, da "incomodidade" com a transparência e da desorganização), com baixos salários e com empregos pouco atractivos. Os jovens não têm alternativas internas e é também isso que alimenta algum emprego no ensino. Como agravante, o estatuto dos professores precarizou-se. O meio da carreira será o topo no futuro próximo e há todo um mar de desconsiderações.

Olhe-se para os europeus que seguiram esse caminho. Aliás, os professores são um exemplo para se perceber o esgotamento político do capitalismo desregulado que seduziu o grande bloco central. A precarização teve um ideário comum.

Os EUA têm dois exemplos do inferno que se abateu sobre os professores. A mudança radical de posição de Diane Ravitch, ex-governante no tempo do 1º Bush, lê-se em duas obras preciosas: "O reinado do erro: A farsa do movimento de desestatização e o perigo para as escolas públicas da América" e "Vida e morte do sistema escolar americano: como os testes padronizados e o modelo de mercado ameaçam a educação". Mais recentes são os estudos que "desacreditam de forma inapelável" "o sistema de avaliação de professores patrocinado pela Fundação Gates e pelo "Obama Race to the Top": "baseou-se na avaliação de professores através dos testes padronizados aos alunos. O modelo remunerava eficazes e despedia ineficazes. Erraram em toda a linha. Prejudicaram os alunos, empurraram os melhores professores para fora da profissão e desencorajaram a candidatura dos jovens com melhores resultados. São responsáveis pela escassez de professores."

Klaus Schwab (2017:64) na "A Quarta Revolução Industrial", diz que "(...)os governos têm de se adaptar. O poder muda de agentes estatais para não estatais e de instituições estabelecidas para redes dispersas. As novas tecnologias e os grupos sociais e as interacções que promovem permitem que qualquer pessoa exerça influência de uma forma que seria inconcebível há poucos anos.(...)". Ou seja, se o século XXI assiste à eleição de autocratas com o voto de eleitores escolarizados, a explicação relacionar-se-á também com a exclusão e a precarização (a revolta e o desespero) como passos para o "não tenho nada a perder" (e, às tantas, para o "quanto pior melhor").

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Imagem: Mark Rothko