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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

da blogosfera - ComRegras - sessão presidida por Paulo Guinote

09.01.16, Paulo Prudêncio

 

 

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A participação neste Conselho Geral resultou em duas respostas que intituei como "Do inverno menos rigoroso" e que pode também ler de seguida.

 

Ponto um: Como reanimar as salas de professores.

 

Vivemos o inverno menos rigoroso de que há memória e os professores agradecem. Apesar dos tempos serem de memória curta, assisti, exactamente no rigoroso inverno passado, a uma radiografia impensável para o que levamos de democracia: vários professores, com idades entre os 45 e os 55, a leccionarem com fortes sintomas gripais porque os atestados médicos implicam a perda de dias de vencimento. Este estado chocante tem motivos óbvios e a comprovada desesperança geral tem causas evidentes: uma redução de mais de 50 mil professores numa década deixa marcas profundas e ponto final. Só por desconhecimento se pode argumentar que nada há a fazer ou que as pessoas estão cansadas de mudanças. Há uma série de variáveis que têm soluções que são mais do domínio ideológico do que da métrica contabilística.

Façamos um resumo.

Há uma legião de professores contratados sujeita a um processo de desprezo profissional: os concursos são, a léguas, os mais incivilizados da Europa e a vinculação mais uma história kafkiana.

Os professores do quadro demonstram uma espantosa resistência associada ao faz de conta. Mas as imagens alojam-se e inscrevem os acontecimentos mais significativos: anos a fio com uma avaliação do desempenho assente no absurdo dos pontos e das cotas e sem qualquer sinal de progressão salarial, divisões injustas na carreira que foram vencidas mas que deixaram marcas, mais turmas e com mais alunos, inutilidades informacionais e horárias como serviço não lectivo, hiperburocracia em regime bacteriano, desorientação didáctica e curricular e megagrupamentos com um modelo de gestão "impensado" e que transportou o pior da partidocracia local para dentro das escolas numa clara afirmação de desconfiança nos professores. Aliás, a confiança é até a palavra-chave. A palavra de um professor vale menos do que um qualquer relatório, mesmo que seja no formato "copiar e colar".

É natural que o sentimento de "fuga" se afirme como primeira prioridade. E sublinhemos: o corpo docente está com uma média etária muito elevada para o que é aceitável numa profissão tão exigente.

Para além do que foi dito, importa sublinhar que os meios de comunicação social estão há uma dezena de anos a publicitar em primeira página, e com a cumplicidade do poder político, a devassa da carreira dos professores e o "tudo está mal na escola pública".

É consequente, portanto, que se leiam apelos a um programa decente de reformas em regime especial como meio de reanimação das salas de professores. Mas não bastará se o quadro conhecido não for alterado. Será uma substituição de desesperançados por "proletarizados" em estado de revolta contida.

 

 

Ponto dois: Ensino profissionalizante ou vocacional no Ensino Básico.

 

Em regra, este tipo de percurso escolar muda de designação quando muda o governo. A novidade do último Governo foi a tentativa de iniciar estes programas de combate desesperado ao insucesso escolar ainda mais cedo e em turmas com quase o dobro dos alunos. 

A generalidade destas turmas vocacionais são antecâmaras de delinquência juvenil ou parques de estacionamento de potenciais desempregados. Desta vez agravou-se com a referida sobrelotação além da troika. Este fatalismo é uma prova da sociedade ausente que deixa tudo à escola transbordante. Não actua quando o insucesso se projecta nos primeiros anos de escolaridade e desorienta-se se a tragédia chega à adolescência e tem o sistema prisional como destino. 

O flagelo do insucesso escolar só terá uma descida consistente quando for encarado como uma tarefa prioritária de toda a sociedade e podendo, por exemplo, adquirir uma responsabilização objectiva ao nível concelhio.

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