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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Da Blogosfera: Blog DeAr Lindo

23.05.22, Paulo Prudêncio

O testemunho é tão impressionante que trouxe o texto todo.

Um Morto Professor

Se lá chegar, brevemente farei 62 anos de idade e 42 a lecionar ininterruptamente, tendo desempenhado em cerca de uma dezena de escolas todas as funções possíveis, desde a faxina da limpeza, passando pelo alombamento do mobiliário/equipamento para lecionar, até à presidência de todos os órgãos escolares, chegando a permanecer nelas dias seguidos das 7.30 horas até depois das 24 horas (com ensino noturno), comendo pagando e tomando conta dos alunos nos refeitórios. E agora, frequentemente dias com manhãs, tardes e noites de trabalho seguidas. Família sempre em segundo ou terceiro plano. Até a formação esteve sempre depois das aulas e primeiro que a família. Em todo este tempo estive um dia de atestado médico.

Descontei mais de 30 daqueles anos para a aposentação, com base em 100% do ordenado, na proporção de me aposentar sem penalização com 55 anos de idade e 36 anos de serviço (era assim considerado pelo desgaste da profissão e outros motivos). Assim foi durante muitos anos e ainda continua a ser para alguns  agora privilegiados. Se me aposentar um dia será com base em menos de 60% (simulação da CGA). Neste país, durante algum tempo a seguir ao 25 de abril de 74, havia carne e osso para todos, agora para os protetores do sistema vai a carne e para os trabalhadores vai o osso já rapado.Repetidamente o aumento dos ordenados nunca acompanhou de perto a inflação. Recebo menos vencimento líquido hoje do que há mais de 20 anos e dois escalões atrás.

Nos últimos anos despediram milhares de professores, alguns com dezenas de anos de carreira, como por exemplo na disciplina prática que leciono em que reduziram para menos de metade os professores ao cortarem50% da carga horária e ao atribuírem o dobro dos alunos a cada professor, colocando em risco permanente a segurança de alunos/professores e sem qualquer investimento em equipamentos/condições de trabalho que são completamente obsoletas. À balela da falta de professores crucificam-se os que já trabalharam uma vida.Para os iluminados que andam a propor bonificações aos professores que depois de aposentados queiram continuar a trabalhar devido à falta deles, pela minha parte nunca nem condecorado.

Sem qualquer justificação, porque há dinheiro do Estado para estádios de futebol megalómanos sem qualquer utilidade, bancos falidos por ladrões, subsídios perdidos a empresas de empresários oportunistas, chorudas reformas sem para elas descontarem proporcionalmente para administradores e afins, favorecimentos por fora em tudo o que é administração pública, lei da autonomia para roubar/desviar verbas, etc., quase no fim da carreira foi-me imposto trabalhar e descontar pelo menos mais 12 anos para cobrir os desfalques facilitados/abafados por político sou gestores corruptos. Nunca vi alguém estar perto de atingir um objetivo e imporem-lhe humanamente um outro incompreensível.

Atualmente leciono a mais alunos do que no início da carreira, com a incomparável diferença entre respeito/reconhecimento àquela data e a agressividade/espezinhamento atual, por alunos, encarregados de educação e administração educativa.

Por considerar ser, pelo Estado e minha entidade patronal, enganado, aldrabado, vigarizado, manipulado, vilipendiado, explorado, roubado, abusado, violado, torturado, trucidado, agredido, enxovalhado, discriminado, desrespeitado, desprezado, humilhado, inferiorizado, achincalhado, despromovido, desvalorizado, etc..

Obviamente, estou pessoal e profissionalmente exausto, saturado, desgastado, fragilizado, estoirado, deprimido, descontrolado, stressado, indignado, revoltado, sem qualquer motivação, assumidamente à beira do abismo sujeito a arrastar comigo alguém próximo, etc..

Fiquei no ensino, a troco de tudo de muito melhor, porque adorava lecionar e o trabalho complementar, mas atualmente detesto esta profissão que mata os que não querem guerra.

Por isso, considero-me um professor morto a trabalhar/lecionar como nunca, fora do prazo de validade para alunos com idade de serem meus bisnetos, em adiantado estado de decomposição sem que alguém note o cheiro nauseabundo que emano e com ar de parolo retrógrado por ter sido professor de informática dos primeiros engenheiros informáticos estando atualmente no grau zero das qualificações digitais, até porque recusei todas as vacinas e todos os testes covid-19 até hoje, devido ao primeiro-ministro atribuir exclusivamente aos professores uma marca de vacina que ele veio a considerar berbicacho e que eles cobardemente aceitaram. Até agora não beneficiei de qualquer bónus para ter covid19. 

E como, com o horizonte de anos que ainda tenho para trabalhar e poder receber a aposentação sem penalização, só vejo a possibilidade de sair na HORIZONTAL pela porta das traseiras da Escola onde trabalho, talvez em resultado dum pressuposto enforcamento. Olho para o lado e vejo os colegas mais velhos ou da minha idade no meu estado e os próximos da minha idade quase como eu, a dizerem que já não aguentam mais. Transformaram-nos numa cambada de velhos transtornados prematuros. Os vacinados a terem todos covid19.

Assim, os alunos vão ter um futuro risonho, com um ministro da educação competentíssimo, há mais de seis anos a governar os professores deste país e por pelo menos mais quatro anos e meio, para quem interessa é que tenham aulas (segundo ele, mas eu sinto precisamente o contrário), por professores no meu estado cadavérico-degenerativo. Com professores neste estado que ensino estão a/vão ter os alunos? Apenas aulas! Um morto professor dá aulas, mas não ensina. Ainda bem que os meus filhos não querem ter filhos para terem este futuro.

Que fique bem claro. Estou morto, mas não morri. Fui simplesmente assassinado e muito lentamente com inqualificável sofrimento. Pena que neste país cavaquistasoarês os incógnitos bandidos doutorandos, seus discípulos e afins que me assassinaram continuem à solta e a viverem à minha custa, nomeados ou eleitos até com maiorias absolutas conquistadas sem o meu voto quejá deixei de o dar desde que me começaram a matar.

PARABÉNS SENHOR MINISTRO (ex-secretário)! Medalhável brevemente pelo presidente selfimarcelista digno descendente do pai que por mero acaso também foi ex-secretário de estado da educação do fachismarcelistaainda do meu tempo de lutador.

 

Carlos Tiago

(o assassinado professor)"