Como é que tinha acabado, e há muito, a diabólica avaliação dos professores?
Antes do mais, não se compreende porque é que não se suspende o decreto regulamentar da avaliação de professores. Se é o próprio ministro da educação que tem dificuldade em encontrar adjectivos para classificar o que existe e advoga o seu fim, então suspenda-se de imediato e não se adoeça mais pessoas nem se estimule mais desistências.
Aliás, se em todos os escalões (com excepção do último, obviamente) tivessem existido vagas e, naturalmente, quotas, esta farsa trituradora de dignidades e promotora de assédio profissional já tinha implodido de vez.
Porquê? Porque houve milhares de professores que passaram ao lado deste flagelo. Quando se aplicou, muitos estavam no 7º escalão ou mais acima (e não foram recolocados no 4º escalão como milhares), muitos beneficiaram do excelente e do muito bom e outros foram dispensados. E repare-se: se as listas das vagas, onde ficaram professores anos a fio numa espera kafkiana de acesso aos 5º e 7º escalões, e as quotas "libertadoras" tivessem sido aplicadas em "todos" os escalões, ter-se-ia concretizado o célebre aforismo de Ludwig Wittgenstein: "as relações humanas seriam muito diferentes se fosse transparente a relação entre dor e linguagem, se sentíssemos a dor do outro ao ouvi-lo enunciando a palavra dor".
Mas tinha implodido ainda mais cedo se todos as pessoas com o estatuto profissional de professor (dirigentes escolares e partidários, sindicalistas, destacados no ministério ou no monstro da formação contínua e das respectivas horas de formação e por aí fora) entrassem no mesmo universo de vagas e quotas dos professores que leccionam. E para a coisa ser mais requintada, durante a carreira cada professor só poderia escapar das listas de vagas duas vezes.
Nota em jeito de repetição: se as mentes diabólicas que inventaram este (vou citar entre aspas as palavras de um mentor arrependido) "fascismo por via administrativa", que tinha as piores referências teóricas e empíricas, tivessem sido minimamente coerentes, tinham aplicado as vagas, e as consequências das quotas, em todos os escalões e tinham-se incluído neste modelo trágico ímpar na Europa.