charlie hebdo e amos oz
Os casos como o do Charlie Hebdo, e os fanatismos que o envolvem, remetem-nos sempre para o conflito eterno: o de israel com a palestina. E quem melhor do que Amos Oz pode ajudar a compreender o fenómeno? Antes da sua sapiência, importa sublinhar que o caso Charlie Hebdo terá muito mais de crime do que de fanatismo religioso ou ideológico. Aliás, existe fanatismo a partir das religiões com livro e a associação com criminosos tem sido conhecida em todas elas.
Mas os ensinamentos de Amos Oz são sempre úteis.
"(...)O que precisamos é de chegar a um acordo, a um compromisso doloroso. E a expressão "chegar a um acordo, a um compromisso" tem uma reputação nefasta na sociedade europeia. Especialmente entre os jovens idealistas, que continuam a achar que chegar a um acordo é oportunismo, algo desonesto, algo astucioso e obscuro, um sinal de falta de integridade. Não no meu vocabulário. Para mim, a expressão "chegar a um acordo" significa vida. E o contrário de chegar a um acordo não é idealismo nem evolução; o contrário é fanatismo e morte. Precisamos de chegar a um acordo, a um compromisso, não de chegar à capitulação. O que significa que os Palestinianos jamais se deveriam ajoelhar. Nem tão pouco os judeus.(...)"
Amos Oz, "contra o fanatismo",
página 41, edições ASA.
Já li várias vezes este pequeno livro de Amos Oz. Encontro sempre mais qualquer coisa nesta prosa tão lúcida, tão humana e tão corajosa. Há um aspecto que ressalta do conflito que preocupa Amos Oz: a guerra que ele tenta ajudar a terminar, eterniza-se.
E por que é que isso acontece? Desde logo, porque os mais fortes não querem perder as suas conquistas e porque os mais fracos vão acumulando tantas derrotas que depois só se satisfazem com a vitória definitiva e total; e quanto mais o tempo passa, mais esse sentimento se acentua; tanto nessa como noutras guerras.