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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Da ADD (avaliação do desempenho dos professores) - Mário Silva

05.11.22

Recebido por email devidamente identificado.

"Após 10 anos da entrada em vigor do decreto regulamentar da ADD, e na época do ano em que os docentes avaliados recebem as suas avaliações da ADD, conclui-se que o único objetivo para o qual foi publicado, está a ser cumprido plenamente: redução orçamental dos salários e pensões de reforma.

Na classe docente, a ADD que foi delineada desde 2012, torna-se mais insuportável de aplicar porque estes profissionais são simultaneamente avaliados e avaliadores (função inerente à profissão), sendo os critérios de uns antagónicos com os critérios dos outros. Um docente como avaliador dos estudantes, aplica um conjunto de critérios de avaliação estabelecidos por normativos legais que procuram sempre beneficiar o(a) aluno(a) com o objetivo de obter a classificação máxima. Também é estabelecido pelos normativos legais e pedagógicos que o feed-back do desempenho do(a) aluno(a) seja frequente e numa perspetiva formativa, e que o erro é usado para ajudar a melhorar, de modo a conseguir a melhor classificação. Na ADD, a avaliação está estruturada para que os avaliadores estejam focados exclusivamente na procura do erro para penalizar o(a) docente, não havendo feed-back para o(a) docente durante o ano de trabalho e no final do tempo que dura um escalão. A procura desse erro é tão minuciosa que a classificação é dada até ao valor da milésima, de tal modo que um(a) docente com 0,001 de classificação inferior a outro(a) é suficiente para ficar de fora das quotas para mérito...! A consequência é ser colocado(a) numa lista de espera que pode durar anos, o que implica necessariamente que milhares de docentes jamais chegarão ao topo da carreira em tempo de vida útil profissional (ou então continuem a trabalhar até aos 80 anos, ideia bastante sedutora para os governos...). Por isso, não é de estranhar que a reação de um docente que, quando nos serviços administrativos recebe a informação da avaliação com classificação de 9 e menção de mérito de Bom por falta de quota, tenha sido dizer em voz audível: "Com quem é que tenho de ir para a cama ou pagar para que a classificação corresponda ao mérito?". Este desespero é revelador do sistema montado: o poder de avaliação concentrado em 5 pessoas, com critérios de avaliação subjetivos e opacos, tem todos os ingredientes para estimular a corrupção.

Este método aplicado a pessoas com formação superior e especializada, que facilmente compreendem que não serve para aferir o mérito mas apenas um pretexto para se poupar em salário no imediato e pensão de reforma no futuro, provoca ressentimento profundo, que muito dificilmente não afetará a sua motivação profissional. E também a violência psicológica a que os(as) docentes são sujeitos quando avaliam os(as) alunos(as) com critérios formativos e benéficos, sabendo que a seguir serão sujeitos a uma avaliação oposta aquela que aplicam como avaliadores(as), bem como a consciência de que as suas remunerações são vitimas da má gestão e corrupção orçamental, são suficientes para promover o burn-out, que contribui, ironicamente, para piorar a prestação do trabalho, e deste modo impedir o objetivo consagrado no preâmbulo do decreto regulamentar de se “criarem condições para que as escolas e os docentes recentrem o essencial da sua atividade: o ensino e a aprendizagem”... 

 
Mário Silva"

 

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