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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

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Até a Inteligência Artificial Se Espanta Com o Sistema Escolar Português

18.05.21

Captura de ecrã 2021-05-18, às 08.30.03 (1).png

Numa sociedade controlada pelo partido totalitário, Winston Smith não acompanhava devidamente, porque tossia, a aula matinal obrigatória de exercício físico emanada do telecrã. Até que: “ - Smith! - berrou a voz áspera do telecrã. - 6079 W. Smith! Sim, você! Curve-se mais, se faz favor! Consegue fazer melhor do que isso. Não se está a esforçar. Mais, por favor! Assim está melhor, camarada! Agora, todos à vontade e olhem para mim.” O que George Orwell imaginou em 1949 não aconteceu em 1984, mas concretizar-se-á no futuro próximo com um importante contributo português (e doutras nações com turmas numerosas).

Ou seja: a inteligência artificial (IA) reivindicará, à Google, melhorais contratuais por causa de Portugal. Os algoritmos não estavam preparados para tanta aceleração. A gigante tecnológica argumentará com a "inesperada" passividade do Governo. Resumindo, a IA espanta-se com os professores e a Google é grata com o que existe.

Para lá das ironias e ficções, constata-se a falta estrutural de professores e a inércia dos poderes. Já nem se trata do tempo de serviço, da carreira ou da avaliação kafkiana. Isso seria elementar. O que surpreende, ou talvez não, é a supressão de qualquer iniciativa para a frequência da formação inicial.

E enquanto isso, e daí o espanto da IA com a auto-flagelação, os professores fornecem gratuitamente os servidores da Google (nas plataformas drive, doc´s, classroom, gmail ou youtube) com conteúdos e testes planificados ao detalhe e prontos a utilizar. E a Google também absorverá as editoras com escolas virtuais que contratam professores construtores de manuais escolares com um elenco considerável de ligações digitais preparadíssimas para registar a pegada digital dos professores e calendarizar os procedimentos. Não tarda e a IA fará a avaliação dos professores com o preenchimento de cotas e vagas com "Youtubers" e "Classroom Influencers". Até que lá virá o dia em que "berrará a voz áspera do telecrã".

Dá ideia que os governos contam com a IA para reduzir o número de professores. Contratarão "guardadores" no "modelo-Uber". Professores só nas escolas com propinas muito elevadas. Aí, os conteúdos digitais serão construídos na escola para evitar os homogeneizados, o número de alunos por turma será decente, o currículo será completo, haverá paridade entre as ciências e as letras, a avaliação será contínua, exigente, rigorosa e baseada na confiança nos professores e as regras disciplinares serão simples, sensatas e "ancestrais".

Voltando ao início, as escolas de massas certificarão (também para as estatísticas internacionais) os obedientes "Winston Smith" e as de propinas elevadas formarão os dirigentes partidários de cúpula e afins. Pensou bem Niklas Luhmann (2001:14), em "A improbabilidade da comunicação", ao considerar “uma viragem radical do pensamento político dominante que abandonou o modelo em que a posição central estava sempre reservada ao indivíduo". Na sua opinião, o humano foi remetido para o exterior tornando-se uma causa para o aparecimento de problemas constantes e complexidades crescentes.

 

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