A trágicomedia do país nas mãos dos votantes no Chega
Antes do mais, há sempre que considerar quem defende que os países funcionam melhor sem Governo e que o tempo é tão veloz que o que levaria anos a saltar à vista ocorre em poucos meses. Por exemplo, quem diria que em Maio de 2025 o país terá que esperar pelas decisões dos votantes do Chega da eleição anterior para saber quem vai governar.
Recuando a 2022 e à maioria absoluta do PS que caiu vertiginosamente, a sucessão de casos, casinhos e outras coisas eticamente não aceitáveis empurrou, segundo os especialistas, muitos milhares de votantes para o Chega. Os seus cartazes, que associavam candidatos de esquerda a José Sócrates (que não está ainda julgado por corrupção), foram convictamente partilhados por toda a direita (Montenegro e o seu PSD alinharam no fenómeno e associaram António Costa e Medina a corrupção), mas os votantes fixaram-se no Chega.
Mas lá está: em tempos velozes, a esperada falta de tanta coisa de eleitos pelo Chega percebeu-se em poucos meses; e, surpreendentemente ou não, os casos, casinhos e assuntos com casinos de quem governa aconteceram vertiginosamente e o Governo caiu.
Obviamente que o Chega associou as personagens a cartazes idênticos aos outrora partilhados (Montenegro foi agora para tribunal e não se sabe com que efeitos), e os seus votantes estão tão baralhados como os motes da campanha eleitoral da maioria dos partidos políticos.
Diz quem estuda os fenómenos eleitorais que há sinais dos votantes nas recentes eleições na Madeira, esse MAGA-Jardim. Mas são muito pouco conclusivos e não se sabe o que fará a velocidade aos votantes na República. Maio é muito distante.
Por outro lado, parece que já não é boa ideia surfar a onda Trumpista. O estadista do Capitólio é replicável na Europa? Há sinais contraditórios. Há quem diga, por exemplo, que a entrega de documentos à FOX foi replicada por aqui com o Observador, mas não se imagina o efeito que esses e outros movimentos autocráticos terão nos votantes no Chega.
Uma pequena nota sobre a Educação:
Por dever de opinião para um canal televisivo no dia em que se conheceu o actual e demissionário Governo, procurei informação sobre o actual ministro da pasta. Li ideias partilhadas por ultraliberais com simpatia pela serra eléctrica e defensores, entre tantas tragédias comprovadas, do cheque-ensino e da entrega da Educação novamente a privados financiados pelo orçamento do Estado. Ainda bem que não teve tempo. As finanças permitiram-lhe fasear a recuperação do tempo dos professores. Foi bom. Mas o programa de Governo anunciava o milagre da multiplicação dos professores. Falhou, como se esperava e se disse. Teve um momento mediático grave com a publicação de números falsos. Envolveu o chefe do Governo, e nova figura dos cartazes do Chega, nessa campanha. Pediu desculpa. Mas não se demitiu e até conseguiu o milagre dos milagres: suprimir da mediatização as notícias sobre alunos sem professor.