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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

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A Pandemia Permite Alguma Visão Optimista?

01.04.21

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Foi no século XIV que ocorreu a pandemia mais destrutiva da história da humanidade. A Peste Negra, que teve um pico na Europa entre 1347 e 1351, provocou a morte de milhões de pessoas na Ásia e na Europa; estima-se um valor entre 75 e 200 milhões. A suposta causa, a bactéria Yersinia pestis, inscreveu várias formas de peste. Mas da Peste Negra resultou um fenómeno muito positivo: um forte abalo no feudalismo.

E lembrei-me deste facto optimista enquanto lia, no Público, um texto recente de Santana Castilho que tem um título interrogativo: "Estamos a aprender a viver em submissão?".

A certa altura, o autor salienta graves injustiças e desigualdades escolares: nas aprendizagens, na situação de milhares de alunos (ensino remoto, educação especial e Acção Social Escolar), na gestão das escolas e na carreira dos professores. E o autor conclui que "os professores, vacinados mas sonâmbulos, suportam um sistema mergulhado nestas desigualdades e injustiças" e que, "submissos, fogem ao confronto como único meio para começar a resolver um dos maiores problemas do nosso estar." 

Percebe-se a crítica. Mas é bom salientar que há atenuantes. Desde logo, os professores, os mais desgastados da Europa para a Comissão Europeia, estarão naturalmente em modo de sobrevivência ou de "fuga". Por outro lado, a pandemia coloca em tensão a liberdade e o direito à vida. Mas se escolhermos como valor fundador a liberdade que respeita a liberdade do outro, a tensão dilui-se no dever de proteger a vida dos outros; e os professores, e de resto a maioria dos cidadãos, respeitam esse registo fundamental para a vida em pandemia.

E sublinhe-se que as graves realidades do sistema escolar apontadas no texto de Santana Castilho não foram originadas pela pandemia nem pelas respostas políticas. A pandemia apenas as tornou visíveis, já que algumas até foram impostas há mais de uma década. Portanto, estamos sem feudalismo mas com uma sociedade com demasiados feudos; e não apenas no universo escolar.

Nesse sentido, há lugar para uma visão optimista. Se no século XIV a Peste Negra pôs fim ao regime feudal, espera-se que depois da covid-19 nada fique como dantes e que os graves problemas referidos não se mantenham na forma de "varrimento" para debaixo do tapete. Aliás, a apropriação do bem comum contribui decisivamente para a não consolidação da democracia e das organizações inclusivas.

Nota: varrimento foi o nome masculino recuperado pelo ministro do sector para caracterizar o modo como milhares de profissionais da educação iam ser maciçamente testados ou vacinados com a Vaxzevria; outrora Astra Zeneca.