A escola e um mundo melhor
Um mundo melhor seria, obviamente, sem guerras e com uma democracia consolidada que contrariasse a ganância. E, como se sabe, a escola dá um importante contributo, em duas ou três gerações, para a afirmação da democracia ou para a sua fragilização.
Aliás, comprova-se, por muito difíceis que sejam os estudos empíricos, a relação directa e proporcional entre a qualidade democrática das escolas, a ambição escolar das famílias e a confiança nos professores. E se a ambição escolar é tão determinante como as condições sócio-económicas, a confiança nos professores é um requisito relacional precioso.
Para além de tudo, a mediatização constante e prolongada da desconfiança nos professores deixa tantas marcas como a sua proletarização. Desautorizar professores prejudica o ensino e as aprendizagens e afecta todos os alunos. "Criam-se" escolas e turmas para os mais informados e despreza-se uma variável fundamental: a "miscigenação" das diversas condições sociais como critério cimeiro para a elevação das escolas e dos sistemas escolares. É importante recordar que esse cruzamento é igualmente decisivo para o crescimento da essencial classe média que fortalece as democracias (leia-se, e apenas a propósito, Hannah Arendt, para muitos a filósofa que melhor psicanalizou o nazismo).
Nas últimas duas décadas houve uma avalanche de desconfiança nos professores. Resultou na falta de professores, mas terá outros efeitos no médio e longo prazos. Era bom que também neste domínio, e a exemplo do clima, das dívidas e da segurança social, nos esforçássemos por deixar um mundo melhor. Não basta dizer que se confia. É crucial que as políticas o confirmem.