A Escola e um Mundo Melhor
Antes do mais, um mundo melhor seria obviamente sem guerras nem pandemias e com uma democracia consolidada que contrariasse a ganância. E, como se sabe, a escola dá um importante contributo, em duas ou três gerações, para a afirmação da democracia ou para a sua fragilização.
Aliás, comprova-se, por muito difíceis que sejam os estudos empíricos, a relação directa e proporcional entre a qualidade democrática das escolas, a ambição escolar dos alunos e a confiança nos professores. E se a ambição escolar é tão determinante como as condições sócio-económicas, a confiança nos professores é um requisito relacional precioso.
Para além de tudo, a mediatização constante e prolongada da desconfiança nos professores - agravada com as turmas numerosas - deixou tantas marcas como a sua precarização. Desautorizou salas de aula, prejudicou o ensino e as aprendizagens e afectou todos os alunos. Desse modo, "criou" escolas e turmas para os mais informados e desprezou uma variável fundamental que se ia concretizando por cá no século XX e nos primeiros anos deste milénio: a "miscigenação" das diversas condições sociais como critério cimeiro para a elevação das escolas e dos sistemas escolares. É importante recordar que esse cruzamento de indivíduos é igualmente decisivo para o crescimento da essencial classe média que fortalece as democracias (é ler Hannah Arendt).
Na última década e meia houve um choque de desconfiança nos professores que se tarda em reverter. É óbvio que já se sente a falta de professores, mas terá outros efeitos no médio e longo prazos. Era bom que também neste domínio, e a exemplo do clima, das dívidas e da segurança social, nos esforçássemos por deixar um mundo melhor. Não basta dizer que se confia. É crucial que os instrumentos da política o confirmem.