A educação caiu num buraco e será muito difícil sair. E podíamos relacionar a indisciplina, e a desqualificação pedagógica, que entra pelas escolas em desrespeito pelos profissionais, com o marketing político do Governo que negoceia com a opinião pública e tenta virar os pais contra os professores. Desde logo, é muito grave que um ministro diga publicamente que os professores devem ler os decretos e não agir por notícias falsas nas redes sociais ou que as greves destroem a escola pública. Este discurso é uma queda. Revela arrogância e falta de humildade.
Mas como se previa, o badalado concurso de vinculação dinâmica ficou com 2000, em 8000, vagas por preencher. É a primeira vez na história da democracia que isto acontece num concurso de professores. Para além do ministro da pasta, o PR e o PM devem tirar ilações e ouvir com mais atenção os professores; e o Parlamento tem que acordar.
Acima de tudo, o mais grave é a inércia de um Governo que não tem a humildade de reconhecer os erros - na carreira, na avaliação, na gestão das escolas e na burocracia -, do obstinado Governo do seu partido do período entre 2005-2011.
"Os professores portugueses são vítimas de uma organização de trabalho que os adoece. São, na Europa, os mais desgastados e os que mais preenchem burocracia inútil. Só os alunos lhes dão ânimo. São os melhores a adaptar as aulas às necessidades dos alunos. A pequena indisciplina coloca Portugal no primeiro lugar do tempo perdido para começar uma aula."
O que leu são conclusões da OCDE, ou de organizações semelhantes, com menos de uma década. Mas não há um documento do Ministério da Educação que conclua no mesmo sentido nem o mundo político se interessa pelo assunto. Houve um manto de silêncio que ignorou o caminho que resultou na grave falta estrutural de professores e no tríptico dos professores em exercício: desgaste, mágoa e revolta contida.
E no meio da falta grave de professores que se alastra pela Europa, o Governo não segura os professores que existem (nem recupera o tempo de serviço, discriminando-os negativamente por mais inverdades que se repitam publicamente) e nem consegue mobilizar os candidatos que ainda resistem à emigração ou à busca de uma profissão mais saudável num ambiente inequivocamente democrático.