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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

in memoriam

13.01.11

 

 

Manda-me o dever da memória resgatar a merecida homenagem ao capitão de Abril Vitor Alves, cuja morte, ocorrida poucas horas antes das de um cronista cor-de-rosa, foi eclipsada por esta do espaço mediático.

De novo, parece que é mais fácil vender a alma por um prato de lentilhas que, após consumidas, vão desaguar na cloaca do esquecimento, do que dirigir o olhar para aqueles que se afirmaram no palco da nossa história recente como figuras exemplares de nobreza, de inteligência e de coragem.

Vitor Alves foi uma dessas figuras, como o facto que relato, que directamente me implicou, confirma.

Vitor Alves foi o primeiro ministro da Educação de Abril. No ano lectivo 1975/76, apresentei-me a concurso como professor provisório. Ora, o ano escolar começara em Outubro, os dias iam passando, depois os meses e eu não era colocado. Talvez lá para Dezembro, fui a Lisboa ao departamento do Ministério relacionado com os concursos para saber o que se estava a passar. Vi então com estes olhos como, espalhados nos corredores, muitos boletins de inscrição no concurso se amontoavam, à espera de quem os processasse. Fiquei alarmado e a esperança de que a sorte me bafejasse ficou seriamente abalada. Fui entretanto sabendo que as colocações iam decorrendo e passou Janeiro até que, nos fins de Fevereiro de 1976, recebi um telefonema do Liceu de Leiria para me apresentar ao serviço. Fi-lo a 3 de março. Entretanto, quando me foi processado o primeiro pagamento, fui informado de que iria ser rembolsado a partir do ano escolar, com contagem desse tempo como tempo de serviço. Fiquei supreendido primeiro, depois reconhecido pelo gesto e mais estimulado para continuar a minha actividade docente. Ainda agora guardo comigo o diploma que determinou esta medida: o Decreto nº 202/76, de 20 de Março.

Como disse, Vitor Alves era o timoneiro da pasta da Educação. Embora não saiba que papel lhe coube nesta reposição da justiça, é ele o principal rosto da mesma. Daqui lhe quero, por todos os que dela beneficiaram, render-lhe o meu agradecimento e a minha homenagem, embora póstuma.

Oxalá hoje se olhe de novo com esperança e com ternura para esse tempo, que, não sendo já o nosso, ainda nos pode alumiar os caminhos árduos que temos de percorrer.

 

 

Vasco Tomás