componentes mistificadas
A ideia de introduzir quatro dimensões na avaliação de desempenho dos professores foi o primeiro passo para garantir a descomunalidade da coisa. Como o relatório do Conselho Científico veio comprovar - e refiro este facto para não me acusarem de uma qualquer parcialidade -, a avaliação deve centrar-se na dimensão ensino e aprendizagem.
As outras três dimensões - social e ética, participação na escola e relação com a comunidade e desenvolvimento profissional - fazem parte do exercício profissional dos professores mas contêm um conjunto de indicadores que são na esmagadora maioria imensuráveis, muito mais num modelo que instituía uma pontuação assente em descritores quantitativos.
Com a redução decretada em Janeiro de 2009, a dimensão ensino e aprendizagem passou a integrar a componente científico-pedagógica e as outras três dimensões a componente funcional.
É, portanto, no chamado "perfil funcional" do professor que se joga toda a polémica conceptual: o primeiro patamar, digamos assim. Há quem entenda que se deve avaliar e certificar a carga de má burocracia que asfixia os professores e as escolas, que é aquilo que na minha óptica está na base do "eduquês" e no que o blogue de Ramiro Marques sublinha aqui. E depois há quem entenda que a avaliação dos professores se deve localizar na sala de aula e no ensino. Concordo com a segunda asserção e, como já referi, o relatório do Conselho Científico também.
Mas o mais grave no "reduzido" em vigor (outros chamam-lhe simplex) é que os professores que não solicitaram a menção de excelente ou de muito bom são apenas avaliados na componente funcional. Uma barbaridade e uma impossibilidade, como se pôde comprovar.
Partamos de Santo Onofre. Tem uma gestão provisória, com dois meses de ocupação, e cerca de 200 professores para serem avaliados na componente funcional. Nada foi feito em relação ao processo. Em coerência, digam lá: auto-avalia-se o quê do modelo em curso? E mesmo nas escolas onde aconteceu alguma coisa, o modelo tem seis meses de exercício. Mas se todos concordamos que a componente funcional é imensurável, auto-avalia-se o quê também aí do modelo em curso? Deve o governo seguir, no mínimo, o relatório do Conselho Científico que nomeou e suspender a farsa que criou. Baste de prolongar esta dolorosa mistificação.
Para os mais interessados, reeditei, aqui, um post sobre o assunto que escrevi no ano passado.
E pode saber também, aqui, como o ridículo tomou conta de todo este processo: depois de muitas escolas terem decidido encerrar o prazo para a entrega das fichas de auto-valiação dos professores, o ME decide que afinal vão ser outras e que para a próxima semana as fará chegar às escolas. Risível se não fosse trágico.