e santo onofre? (02)
Leccionei em 13 escolas de Norte a Sul do país, tenho cerca de 30 anos de serviço docente quase ininterrupto, integrei uma equipa de coordenação de cerca de 50 estabelecimentos de ensino, mergulhei durante cerca de 10 anos em gestão escolar numa escola pública, lidei com procedimentos de gestão de empresas privadas e de organizações de utilidade pública e não me lembro, e escrevo-o com amargura, de uma situação tão indizível como a de Santo Onofre.
Quando estou dentro de uma sala de aula a coisa atenua-se. Mas quando estou presente numa qualquer reunião, o confronto com os procedimentos da organização escolar tira-me do sério. Entristece-me exercer a minha actividade profissional numa organização que recorre, em pleno 2010, a um processo de terraplenagem de toda a cultura organizacional que fez daquela escola, hoje sede de agrupamento, um exemplo de referência organizativa e de ambiente profissional.
Tenho assistido ao processo em curso com um bilhete de balcão. Não me confundo com o jogo de sombras que decorre no palco e nos lugares próximos. A possibilidade dos mega-agrupamentos, e o modo como nasceu por ali o novo modelo de gestão, começa a abrir brechas irreparáveis.
Recordamo-nos dos momentos recentes em que Santo Onofre era uma referência na histórica resistência dos professores. Depois de muitas peripécias, o ME resolveu instituir uma CAP (Comissão Administrativa Provisória) com 4 elementos. Apenas uma dessas pessoas leccionava no agrupamento. Meses depois, demitiu-se ou demitiram-na e a CAP ficou reduzida a três. Mais tarde, um grupo de professores (alguns da escola sede) decidiu pôr fim ao movimento resistente e viabilizou o CGT (Conselho Geral Transitório). Com o decurso do processo concursal/eleitoral (ao que dizem os especialistas é uma singularidade lusitana) constituiu-se uma direcção composta pelos restantes membros da CAP e por alguns dos professores que viabilizaram o modelo.
É público que a coisa não correu nada bem. Não estou a escrever nada que os próprios não se cansem de repetir à saciedade.
Mas o que agora me faz escrever sobre Santo Onofre é recente. Com a saga dos mega-agrupamentos a ameaçar os mandatos por cumprir, elementos do palco (não sei se um, se dois, se uma das partes, se ambas as partes) puseram à consideração a ideia de uma reunião geral de professores e de educadores onde se tentaria recuperar a aura da resistência de modo a defender a identidade cultural de Santo Onofre e o cumprimento dos mandatos.
Digam-me lá se aquela área geográfica não tem tendência para a excentricidade (isto para não escrever outra coisa)?