infantilização
Quanto se tem de dirigir alguma organização não é necessário ter muitas ideias. O mais difícil até é ser parco na lucubração e encontrar as duas ou três que podem servir de alavanca para arrastar tudo o resto.
Há uma característica portuguesa que me parece única: a utilização intensiva de diminutivos. Os inhos são uma instituição nacional e sua atenuação contribuiria para a resolução de uma série de problemas no sistemas escolar.
Nas últimas décadas construiu-se paulatinamente um edifício de burocracia monstrusa para assegurar aos miúdos o reino dos céus e da terra. O excesso de garantismo chega a irritar as crianças e os jovens. Ao fim de 4 ou 5 anos de escola já são veteranos das regras, mas mesmo assim assistem a permanentes e acesos debates, que envolvem os mais altos dignitários da nação, para se regulamentar uns quaisquer duzentos e quarenta e oito artigos que defendam os disparates que eles estão fartos de saber que não podem cometer.
E não é só na escola. Tenho ideia que na maioria das casas passa-se o mesmo. São mesmo uns pequenos ditadores.
Se o sistema escolar pusesse fim a este estado de sítio, melhorava rapidamente uma série de componentes críticas: reuniões sem sentido; planos de recuperação, de acompanhamento e afins que mais não são do que má burocracia; relatórios atrás de relatórios a justificar uma nota negativa; e por aí adiante.
É espantoso o tempo que se teima em gastar para não educar os jovens. São gerações de inhos a fugir à responsabilidade de ter que dizer um não e ponto final. É importante destruir este edifício. A começar pelo estatuto do aluno. Repare-se na seguinte pérola para a falta injustificada de um aluno adulto. Se isto não é de bradar aos céus, pelo menos tenho quase a certeza que não há país no mundo que utilize procedimento semelhante.
Diz o Artigo 20.º (Faltas injustificadas) no nº 3: As faltas injustificadas são comunicadas aos pais ou encarregados de educação ou, quando maior de idade, ao aluno, pelo director de turma ou pelo professor titular de turma, no prazo máximo de três dias úteis, pelo meio mais expedito.
Há uns meses utilizei estes mesmo artigo para outro post e terminei assim: "(...)É a era da comunicação na versão do sistema escolar português. Doses de comunicação. Então uma pessoa falta injustificadamente e tem de ser avisada do facto? Até um aluno adulto? E no prazo máximo de três dias? Avisado de quê? É para se lembrar que anda na escola? Ou é para o caso de não estar informado que havia uma aula? Não internem esta gente nâo, que vão ver onde é que isto vai parar.(...)"