partes interessadas
Há duas décadas que o conceito de stakeholders ajuda a mudar o mundo das organizações. Tenho ideia que muito antes disso - com a introdução nos anos setenta do século XIX do homem económico de Taylor -, iniciou-se a saga que colocou os saberes empresarias como os faróis que iluminariam o mundo organizacional e que colocariam os restantes numa posição subalterna.
Seria quase risível se alguém se atrevesse a propor aos "empresariais" um benchmarking com a organização escolar; dizer-lhes: "aprendamos mutuamente nos lugares, mas em todos os lugares, onde se situa a dita excelência". Não foi assim.
Não existem "escolas" que se dediquem verdadeiramente à gestão escolar e o que se vai fazendo é uma tentativa de cópia tímida e desnorteada daquilo que aconteceu nos conhecimentos que pasmaram o mundo. Talvez por isso (ou melhor: também por isso) se assista à "crise da escola" que há mais de vinte anos atravessa todos os sistemas escolares; volta e meia acontecem tentativas absurdas: nivelar, em termos organizacionais, objectivos e resultados da produção (no caso escolar, resultados dos alunos).
As partes interessadas que influenciam as organizações (os stakeholders), as internas e as externas, são vulgarmente as seguintes para o domínio empresarial: os accionistas, os empregados, os clientes, os fornecedores, as entidades bancárias, os sindicatos e os grupos ecológicos. Imagine-se o que pode acontecer quando se faz uma moderna e inevitável transposição para a gestão escolar. Dizem os especialistas que os casos empresariais bem sucedidos equiparam o mais possível a posição hierárquica dos seus stakeholders; também dizem que, em regra, o factor politico pode tornar muito nebulosa a identificação das partes interessadas.
Olhemos para o nosso sistema escolar, pensemos, para sermos breves e sucintos, em duas variáveis: no descrédito da ideia de ensino e no novo modelo de gestão escolar. Rapidamente se percebe a tragédia: "a parte interessada professores" foi relegada para um patamar inferior. Desse modo, quebrou-se o elo de confiança com a sociedade e colocou-se em perigo o futuro da democracia, como bem diz Hannah Arendt. É factual, foi nebuloso, foi desconhecedor, foi comandado pelos votozinhos e vai demorar muitos anos a reerguer.
(1ª edição em 22 de Abril de 2010)