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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

a arte do cinismo

11.04.10, Paulo Prudêncio

 

 

 

Saque de Roma; Foi daqui

 

 

"O cinismo não é mais do que a arte de

ver as coisas como elas são,

de preferência a de como

deveriam ser."

 

Oscar Wilde

 

 

 

Vivemos, como alguns classificam, na pós-modernidade: tempo de globalização, de sociedade aberta, da informação e do conhecimento; isto dito assim, para ser abreviado e para ajeitar os meus escritos. Por outro lado, também tomámos consciência que a situação portuguesa é grave e que sua democracia parece estar num labirinto.

 

As notícias dos últimos dias, a propósito das diversas candidaturas políticas, têm provocado um interessante debate à volta das motivações e da atmosfera que envolve cada uma das vontades.

 

Estamos cansados, mas não o devíamos, de repetir que a política é uma actividade nobre. Mas quando os tempos sobreaquecem, o que emerge com mais força é a arte do cinismo. E esta forma de olhar as relações políticas e sociais, que pode indiciar uma qualquer decadência e que a Grécia Antiga começou a registar, obteve um expoente cortante na prosa de Nicolau Maquiavel.

 

Percebemos que o ocidente tem vivido uma época imperial nos últimos séculos. Sabe-se que nada é eterno. Por norma, a um período de ampla soberania segue-se uma lenta e irreversível degradação, como se observou no Império Romano, por exemplo.

 

A democracia nasce virtuosa, digamos assim, mas a natureza e a cobiça humana lançam-lhe um exercício de eutanásia, por congestão das liberdades, que se acentua nos momentos de auge.

 

E vem tudo isto a propósito do que se tem dito das candidaturas de Manuel Alegre, de Fernando Nobre, de Paulo Rangel e de outros mais, mas também a propósito da actuação política de Cavaco Silva, de José Sócrates, de Manuela Ferreira Leite, de Mário Soares, de Francisco Louçã ou de quem quer que seja.

 

Não podemos ter duas espadas e duas almofadas, mas não é suportável calar a indignação que nos dói sem piedade. E se essa combinação é o mais difícil dos exercícios, é também verdade que ninguém sobrevive à voracidade vigente. A quem quer que se ponha de pé, rapidamente lhe será servida uma bandeja do mais imaculado cinismo.

 

De quem é a culpa do estado de sítio? Da cobiça, com certeza, mas também da fragilidade do exercício ético na política e na sociedade e provavelmente da incapacidade humana para viver uma paz longa e duradoura.

 

(Reedição. 1ª edição em 20 de Fevereiro de 2010)

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