do arquivo e da memória
Como é que vai ser o ensino no ano 2000/próximo milénio?
Com todos os riscos que uma previsão desse tipo encerra, podemos e queremos imaginar um ensino que estimule a curiosidade, que desperte uma permanente vontade de aprender. Sabemos que isso exige esforço. Também sabemos que quem gosta de aprender constrói modelos de referência, perspectiva caminhos, serve-se dos vastos recursos existentes e ajuda a que outros também o façam. A etapa que vivemos teve um caminho inevitável e desejável, a massificação do ensino. É necessário passarmos a outro estádio, também imperativo, a democratização do ensino. Desejamos que o ensino chegue a todos de uma forma verdadeiramente significativa, mas, para isso, é desejável que a articulação entre as diversas instituições responsáveis pelo sucesso educativo (que não apenas o escolar...) seja eficiente. De uma coisa estamos certos: se não sabemos muito bem para onde vamos, sabemos de certeza por onde já não queremos ir. O conjunto de experiências e de estudos é suficientemente vasto para não repetirmos soluções gastas e do passado. A escola continuará a ensinar, mas os modelos organizacionais que proporcionam o acesso aos saberes, aos conhecimentos, aos valores, às atitudes, serão definitivamente diferentes. Mesmo hoje, parece-nos desnecessário fazer o elenco dos parceiros educativos da escola para sermos claros na resposta a uma questão deste género. No entanto, o destaque para a família como parceiro privilegiado e decisivo evidencia-se, agora e no futuro.
Como é que essas transformações se vão repercutir na sua escola, ao nível de professores e alunos?
Já se repercutem. Ao longo deste século sempre se procurou metas de excelência nos diversos domínios das aprendizagens. A cultura da escola é a cultura permanente da exigência, da finalidade, da regra mas também do afecto, da amizade, do drama. Com a alteração vertiginosa dos meios, impõem-se novos modelos de relação pedagógica que reconhecidamente terão exigências crescentes. Contudo, espera-se que renovem entusiasmos, que reformulem projectos, que abram novos horizontes. Para ambos, professores e alunos, caminhar num bom percurso de aprendizagem não é uma tarefa fácil, é antes um somatório de venturas e desventuras; o fundamental é que as condições de realização do acto educativo acompanhem e apoiem as necessidades de uns e de outros.
Quais as prioridades que deveriam haver nas Caldas ao nível da educação?
É importante que se crie um conselho local de educação, onde todos os contributos se cruzem. Esse conselho ajudará a estabelecer as políticas educativas ajustadas às necessidades da comunidade, com indicadores que não se desloquem duma perspectiva emancipadora, sempre balizados pela preocupação de tentar apreender o novo e dar-lhe forma. O conselho local de educação estará assim em condições de sugerir com clareza quais as áreas prioritárias de investimento. Deverá ser um conselho que funcione, que se governe por um regimento moderno, que seja simultaneamente aglutinador e mobilizador. Mais do que fazer elencos de prioridades, é fundamental criar as bases organizativas que orientem as políticas educativas ou outras. Também é fundamental, que depois a comunidade perceba o caminho, que identifique ao longo do percurso o que claramente se quer ou não se quer. Como alguém disse "o ensino não deve continuar a encontrar soluções que tenham um pé no passado, ou seja, não deve responder de forma igual para todos sem perceber que o fundamental é introduzir saídas para cada um. A escola não pode continuar a ser um local de estacionamento de potenciais desempregados". Ora aqui está uma prioridade absoluta, que só pode ser concretizada com ideias sólidas sobre o que vai ser o mercado de trabalho no futuro, na região e no mundo. Aí, a escola, isoladamente, pouco fará. O ensino do futuro passará decerto também por aqui. E o sucesso das políticas terá uma relação muito directa com a capacidade de ANTECIPAÇÃO.