marcha do adeus
Depois das três históricas manifestações do ano de 2008 (a da indignação a 8 de Março, a da razão a 8 de Novembro e a da lucidez a 15 de Novembro) e da "manifestação da generosidade" em frente ao Palácio de Belém, a 24 de Janeiro de 2009, estivemos ontem (30 de Maio de 2009), em Lisboa, em mais uma não menos histórica manifestação de professores. A partida para a "marcha do adeus" decorreu a uma hora mais tardia para resguardo de uns cansaços passageiros. O calor apertava e o estacionamento aconteceu perto do Marquês de Pombal. O primeiro contacto, por volta das 15h00, deixou-nos a melhor das impressões. Procurámos a zona intermédia da Avenida da Liberdade de modo a nos protegermos debaixo das árvores e para integrarmos a manifestação com alguma poupança de esforços.
Os contactos com os bravos de Santo Onofre começaram
e não resisti a voltar ao Marquês para registar
o início da descida triunfal do agrupamento
de escolas onde me orgulho de ser professor.
O primeiro mote que me lembro
de ter registado é bastante elucidativo.
O grande Teodoro surpreendia com o seu som sobre rodas.
E tornava-se um imprescindível oxigénio para os manifestantes.
Não consegui acompanhar Santo Onofre durante todo o percurso.
Mas sei que, e apesar da tarde tão abrasiva,
as onofrinas e os onofrinos iam de
cabeça bem levantada.
Santo Onofre entra na Avenida da Liberdade e os primeiros
aplausos fazem-se sentir.
Santo Onofre inicia a descida. Organizam-se
as hostes de quem sabe ter paciência para lutar
e de quem acredita que a razão tem muita força
e que acaba, quase sempre, claro, por triunfar.
As escolas das Caldas da Rainha estavam muito bem representadas.
Mesmo com uma temperatura de 34º centígrados
os professores enchiam a Avenida da Liberdade
e vinham de todas as zonas do país.
Enquanto os Restauradores enchiam...
... milhares de professores esperavam a sua
vez no Marquês de Pombal para
darem voz à "marcha do adeus".
Santo Onofre deixava bem vincado o seu desejo mais local
pela mão de dois professores de eleição. Gerações diferentes
que nos transmitem uma certeza: a dignidade e o orgulho de
se ser professor são ideias com futuro.
Foi um dia inesquecível e a festa que se esperava. Encontrei colegas que saíram de autocarro do norte do país ainda bem cedo, fizeram a descida da Avenida da Liberdade debaixo da torreira do sol e voltaram ao Marquês para um regresso a casa que só se efectivou noite dentro. Já não eram crianças nenhumas, estavam exaustos com o final do ano lectivo - e com os anos consecutivos da mais completa doideira nas políticas educativas - deixaram a família e perderam mais um dia de justo descanso. Mas mesmo assim ainda diziam com uma firme determinação: "voltaremos as vezes que forem necessárias". É obra e um renovar da esperança. E não eram tão poucos assim os professores que se manifestaram: 80 mil para a comunicação social e sindicatos e 55 mil para a polícia que é sempre mais comedida nos números.
Antes do regresso a casa jantámos com um grupo de quarenta inesquecíveis resistentes.
Valeu a pena o esforço. A luta já vai longa mas é justa. A história da nossa democracia encarregar-se-á de reconhecer o contributo decisivo dos professores portugueses na defesa da escola pública de qualidade para todos. Vim com uma única certeza: os professores não desistem.