por onofre (22)
Pode ler uma bela prosa que encontrei no blogue do Rui Correia, aqui, sobre o momento em Santo Onofre.
destrambelho
"Era de esperar. Que aparecessem os totós a achar e a jurar a pés juntos que a manifestação de alunos contra a CAP fosse coisa concebida e instigada por professores. Ou seja, os professores de Sto Onofre, depois de tudo o que passaram, iam mesmo cometer o despropósito, o despautério, a inocência primaveril de dar um tiro destes no pé. Isto revela bem o desconhecimento que ainda persiste sobre esta escola. Em primeiro lugar sobre os professores, mas neste caso, também sobre os nossos alunos. Em que conta os terão? Mínima, evidentemente. É o que dá nunca terem dado aulas a nenhum deles. Ter-se-ão a si mesmos em tanta conta que cheguem a pensar que esta foi a primeira manifestação espontânea dos alunos na Escola Básica Integrada de Sto. Onofre? Lamento decepcionar os que queriam mais sangue nisto mas acontece que - como dizer isto sem mágoas e rancores? - não têm razão. Continuamos muito serenos e sabemos muito bem as linhas com que nos cosemos. A relação entre alunos e professores é aqui em Sto Onofre, presumo, igual a muitas escolas da região e do país. Muito boa. Conhecem-se muito bem. As apreensões de uns foram sentidas pelos outros. Os professores, compreendendo que qualquer movimentação dos alunos pode ser imediatamente mal interpretada pela restante comunidade, multiplicam-se em esforços para acautelar que toda iniciativa dos jovens seja, impreterivelmente, da sua exclusiva responsabilidade. Os alunos perguntam abertamente o que se passa. Alguns professores consideram seu dever explicar, por considerarem que não há, nem nunca houve, temas proibidos nesta escola, mas fazem-no sempre com uma precisão de distanciamento observante e ponderado.
As conversas na sala de professores vão todas no sentido de transmitir aos alunos a maior serenidade e garantir que nada de opinativo transpira de qualquer professor para qualquer aluno acerca do que está em causa. Existe um notório desconforto em relação a isto. A decisão dos alunos, embora comovente pela sua impulsividade juvenil, foi, perceba-se de vez, incómoda. Por causa justamente destas previsíveis conclusões precipitadas que (apenas) os precipitados correram a tirar. Os precipitados e os interessados. Interessados em que isto fosse uma espécie de “Matam o Rei, matam o rei” com um Mestre d’Avis à espera de abrir a varanda no momento certo. Nem Fernão Lopes chegaria tão longe no seu afã pátrio.
Aliás, sempre vos vou dizendo que eu é que tive de ouvir o que um polícia me disse sobre todo esse dia. Sobretudo uma frase que incluía a palavra que intitula esta prosa. E, com franqueza vos digo, como me foi perturbador ouvir o descrédito em que caiu a minha escola."