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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

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intervenção divina

02.08.07, Paulo Prudêncio
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É comum ler-se e ouvir-se criticas muito contundentes à caixa que mudou o mundo. O mesmo, passa-se com a utilização da internet e passou-se com o uso do telefone. São criticas e, por isso, devemos considerá-las de modo muito atento quando construímos os nosso projectos de vida. Mas não deixo de afirmar que estes meios fantásticos trazem sempre um vasto conjunto de oportunidades. Trata-se, sempre, da forma como os usamos. Todos eles têm um botão comum: liga-os e desliga-os.

Liguei a minha televisão para ver mais um dos filmes que me escapou: a “intervenção divina” do palestino Elia Suleiman.

Tinha visto o seu “crónica de um desaparecimento” e, desde aí, fiquei atento às suas realizações. Para além disso, o seu cinema vem da mesma área de um dos meus realizadores preferidos: o iraniano Abbas Kariostami – e sabemos como é difícil a caminhada ocidental destes realizadores.

A “intervenção divina” tem duas fases. Uma primeira, mais próxima do meu gosto pessoal – com poucos meios e com “muito mais tempo” - e uma segunda, mais preenchida por efeitos especiais tão ao género dos “thriller” ocidentais.

Fiquemo-nos pela primeira: fala-nos do cruel conflito Israel versus Palestiniana - ou Palestina versus Israel, é como preferirem, já que o que é estúpido é-o de qualquer dos modos - e filma-o, quase sempre, na fronteira entre Ramallah e Jerusalém. Preenche-nos com quadros que retratam, com uma suave e eloquente brutalidade, a estupidez humana e os seus constantes e mesquinhos conflitos.

Não toma partido, ao contrário da segunda parte, que se assume claramente pró-palestiniana, e expõem os humanos à sua natureza mais cruel. Mostra-nos a possibilidade de filmar em profundidade e em ruptura com as técnicas canonizadas. Uma sincera homenagem à beleza. Um grito.

Aconselho.

A escolha do título, pareceu-me uma homenagem ao modo inacreditável como cada um dos palestinos sobrevive à imensa desigualdade de meios de sofisticação bélica - do ponto de vista tecnológico, claro - que esta guerra transporta. Segundo Elia Suleiman, só mesmo com uma intervenção divina. 

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