Seria moderno e sensato que o Ministério da Educação, que licencia o software, e sempre que cria uma lei que exige dados de alunos (casos do sucesso, da flexibilização e da inclusão), indicasse às empresas a "nova" informação a obter nas plataformas digitais.
1ª versão publicada em 4 de Novembro de 2018.
Os estudos mais diversos repetem a conclusão: "os professores são vítimas de uma organização de trabalho que os adoece". Mas, e estranhamente, não há um relatório dos serviços centrais (direcções-gerais e avaliadores externos) do Ministério da Educação que o detecte e nem sequer os governantes o identificam; bem pelo contrário. São, aliás, dois híperes (a hiperburocracia e o emergente hiperagrupamento de escolas) com uma bactéria comum.
Recorde-se que escolas e agrupamentos pagam licenças a empresas para a gestão de diversas áreas onde se incluem os dados dos alunos. Seria moderno e sensato que o ministério da educação, que licencia o software, e sempre que cria uma lei que exige dados de alunos (casos do sucesso, da flexibilização e da inclusão), indicasse às empresas a "nova" informação a obter nas plataformas digitais. Como não o faz, as escolas e agrupamentos entram, como mais ou menos "criatividade", numa infernal circulação por email de ficheiros excel e word que origina uma doentia repetição de dados, de inutilidades e de reuniões de agenda repetida. É uma patologia que é ainda inúmeras vezes impressa. Ou seja, as ciências da educação ignoram os princípios elementares das ciências da administração e dos sistemas de informação e são posteriormente certificadas pelos registos info-excluídos dos avaliadores externos.
Por outro lado, foram esses serviços centrais que projectaram há mais de uma década a imposição de um (híper)agrupamento de escolas por concelho. Parece que estão perto de o conseguir. Sublinhe-se que o modelo que "gere" as escolas foi testado e desaconselhado já no século passado. Apesar de desenhado para uma escola, os serviços centrais impuseram-no (agrupando a eito dez, vinte ou trinta escolas das mais variadas tipologias) ampliando o fenómeno da hiperburocracia. Mas quem ler os relatórios dos avaliadores externos sobre uma amostra dos agrupamentos que existem, convence-se que tudo funciona entre a perfeição e o paraíso e mais se atreve ao aumento da escala de mega para híper; e sem alterar o modelo e com a municipalização como meta.
A sobrevivência implica olhar para os híperes com o desenho de Picasso - "ainda há vida com uma guitarrra" - e pensar como Goethe: "todos os dias devemos ouvir uma canção, ler um bom poema, ver uma pintura de qualidade e dizer palavras sensatas". Cumpri os dois últimos e vou atrás dos restantes.
Obtive esta imagem do "Still life with guitar",
de Pablo Picasso,
no Albertina museum em Viena.