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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Matemáticas

31.08.21, Paulo Prudêncio

Recebido por email devidamente identificado.

 

"Após séculos em busca da Pedra Filosofal, que permitiria transformar qualquer metal em ouro, ou obter o Elixir da Longa Vida, os alquimistas do Século da Informática buscam a fórmula da infalibilidade. Senhores de biliões de informações, acham que tudo é previsível, logo, realizável.

Uma definição corrente de Estratégia dá-a como “a ciência-arte do comandante  chefe”. Simples? Nem por isso; Ciência e Arte aparecem normalmente como opostos; que o digam os nossos estudantes, entrincheirados em campos adversos sobre este tema melindroso.

Coisa de arreliar os novos alquimistas. Quão melhor seria formular um algoritmo que desse solução para tudo, deixando as artes para os tempos livres.

Baixando de escalão, os alunos de ciências militares também são vítimas desta dicotomia. Mais concretamente, são tentados a aderir ao que se chama, jocosamente, “tática a metro”.

Vinte anos de “estratégia a metro” no Afeganistão parecem ter sido varridos em quinze dias. Estimativas, previsões, estatísticas, doutrinas – tudo por água abaixo. Nada de insólito: na II Guerra Mundial, a Alemanha derrotou a Polónia em duas semanas, a França em dois meses e a Jugoslávia em onze dias. Contrariando os apurados estudos.

Os irredutíveis estrategas/alquimistas não abdicam das contas, e por vezes acertam. Um bom exemplo é a famosa equação sobre o poder estratégico de um Estado, formulada por Ray S. Cline: Pp = (C+E+M)x(S+W), em que Pp é o poder calculado, C é o conjunto do território e população, E é a economia do país e M a capacidade militar, tudo isto multiplicado pela soma de S, adequação da estratégia, com W, vontade nacional.

Não é necessário ser perito em matemática para ver que, nesta fórmula, se um dos fatores for nulo, o resultado será nulo. Ou seja, C+E+M podem ser avassaladores, mas se S+W for  igual a zero, ou perto disso, o resultado será catastrófico.

O que sucedeu no Afeganistão? Depois de invadido por persas, ingleses e russos, o país foi ocupado pelos americanos, com a melhor das intenções. Os afegãos tiverem decerto um sentimento semelhante ao dos portugueses quando, em 1834, a Quádrupla Aliança (Inglaterra, França, Espanha e o nosso D. Pedro IV) invadiu Portugal para restaurar o Liberalismo. Só que a Aliança não permaneceu em Portugal durante vinte anos...

A declaração de Donald Trump sobre a saída do Afeganistão lançou um processo irreversível. Voltando à equação, C+E+M pode até ter aumentado, mas a adequação da estratégia (S) desceu a pique e a vontade (W) tendeu para zero. Os bons analistas deveriam ter antecipado um resultado nulo.

E assim os talibans ocuparam o país, adquirindo como bónus o equipamento moderno de um exército de 300.000 mil homens.

Também porque, como os portugueses bem sabem, ninguém quer ser o último morto duma guerra.

Nuno Santa Clara"