Li, em tempos, no Público, numa interessante rubrica intitulada "o discurso que nunca foi feito", um texto escrito de Gonçalo M Tavares intitulado "sobre a politica contemporânea".
Escreveu duas epígrafes, uma de Harold Brodkey e outra de José Bragança de Miranda.
A de José Bragança de Miranda diz assim: "Sendo a politica um agir livre, tudo pode recomeçar, mas não de qualquer maneira nem em qualquer lugar".
"Tentando ultrapassar a espuma dos dias e ir para além do que é o debate superficial ou a ausência de debate que caracteriza as campanhas" (texto da responsabilidade da edição do jornal), Gonçalo MT divide o seu pensamento em 10 pontos.
Fiquemos com os dois primeiros.
1 - Na politica contemporânea recomeça-se quase sempre de novo o que se traduz numa violência: iniciar é eliminar o que existia antes. Recomeça-se permanentemente, não por ignorância (do que existia antes), não por oposição absoluta em relação ao anterior (como existe no germe de uma revolução), mas por vaidade.
2 - A politica parece cada vez mais uma administração de palavras e não de coisas. Não se trata já de transportar pesos, de deslocar acontecimentos de um lado para outro, trata-se antes, e primeiro, de um transporte de vocábulos.