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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

A Difícil Condição

18.12.18, Paulo Prudêncio

 

 

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Para além da erosão do centro político que se vai verificando pelo mundo ocidental - a que não é estranha a impressionante riqueza material de líderes carismáticos da esquerda (Obama e Ségolène Royal, por exemplo) -, Portugal enfrentará os seus problemas: semi-periferia, consequências da falência financeira e condição de protectorado (ainda recentemente, o parlamento alemão "autorizou" a finalização do empréstimo ao FMI). Aliás, as diferenças de tratamento europeu em relação aos países que ultrapassam os três por cento (para Stiglitz, os 3% são uma epifania própria da demagogia - uma categoria política mais nociva do que o populismo -) de défice orçamental é elucidativa. 

O turismo tem sido uma espécie de petróleo e permite que Portugal se anime na "independência" em relação aos, naturalmente, implacáveis credores. Só que esse caminho exige cortes orçamentais, impostos elevados e manutenção do desinvestimento nos serviços públicos. Se a direita está esgotada com o tempo da troika, mais uma legislatura (ou até antes disso) com um Governo com o apoio actual poderá projectar a extrema-direita se nada, de socialmente significativo, acontecer.

 

Imagem: uma fraga na beira alta.

A burocracia mais de uma década depois

18.12.18, Paulo Prudêncio

 

 

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José Gil (2005:44) escreveu assim: 

“(...)Em contrapartida, somos um país de burocratas em que o juridismo impera, em certas zonas da administração, de maneira obsessiva. Como se, para compensar a não-acção, se devesse registar a mínima palavra ou discurso em actas, relatórios, notas, pareceres – ao mesmo tempo que não se toma, em teoria, a mais ínfima decisão, sem a remeter para a alínea x do artigo y do decreto-lei nº tal do dia tal de tal mês do ano tal.(...)”


E mais à frente, Gil (2005:57), sublinha: 

“(...)duplo regime que vigora em serviços de toda a ordem. Ora se tenta inscrever freneticamente tudo, absolutamente tudo em actas, para que nada se perca, ora reina a maior negligência nos arquivos que ninguém consulta nem consultará (espera-se).(...)”

 



Gil, J. (2005). Portugal, hoje. O medo de existir.
Lisboa: Relógio D´Água

 

(É um livro de 2005 e confirmamos, com muita

frequência, o duplo regime. Quem diria que este

retrato nos levaria a mais uma bancarrota e que

o regime burocrático se tem acelerado.)

Maio, sempre Maio

18.12.18, Paulo Prudêncio

 

 

 

Narração de um homem em Maio (1953-60).

Mexo a boca, mexo os dedos,

mexo a ideia da experiência.

Não mexo no arrependimento.

Pois o corpo é interno e eterno

do seu corpo.

Não tenho inocência, mas o dom

de toda uma inocência.

E lentidão ou harmonia.

Poesia sem perdão ou esquecimento.

Idade de poesia.

Herberto Helder em Poesia Toda.