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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

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da pedagogia e em busca do pensamento livre

"O próximo substituto do professor"

29.11.18, Paulo Prudêncio

 

 

Contributo de Mário Silva recebido por email.

(ainda noutro dia ouvi quem se conformava com o facto dos filhos adolescentes - 12 e 14 anos - serem youtubbers. Pelo que percebi, não gostam da escola - e pensam, entretanto, deixá-la - e já têm rendimentos financeiros que me surpreenderam.)

 

"Em tempos longínquos, além do trabalho curricular na sala de aula, várias vezes proporcionavam-se debates espontâneos sobre a sociedade (cultura, economia, política, etc.), de tal modo, que ainda hoje esses antigos(as) alunos(as), adultos no mercado de trabalho, recordam-se particularmente desses momentos; ouviram e não esqueceram.

Com as catastróficas transformações pedagógicas que entretanto ocorreram, esses tempos extinguiram-se, e com as profundas alterações tecnológicas e sociais, as gerações seguintes têm outra postura na sala de aula: não se interessam por temáticas que não sejam lúdicas. Por isso, foi com estupefacção que esta semana os alunos do 3º ciclo falavam recorrentemente sobre o artigo 13 da diretiva da UE, e perguntavam a opinião aos profs (esse artigo tem sido polémico porque põe em causa a liberdade de informação na internet). Obviamente que se questionou como é que raio sabiam dessa coisa do artigo 13; e a resposta foi que "um youtuber publicou um vídeo sobre isso e como não sabíamos o que era fomos pesquisar".

“Quer dizer, se fosse um professor a falar isso na aula, quando saíssem da sala já tinham esquecido, mas como foi um youtuber, não se esquecem”, comentou o professor para a turma.

“Claro, os alunos não estão interessados no que os profs dizem e por isso não ouvimos, mas os youtubbers são mais interessantes”, foi a resposta pronta de uma aluna, com a anuência da generalidade da turma.

E deste modo ficou esclarecido que os youtubers serão os substitutos dos profs, já que são mais eficazes na captação da atenção da miudagem...

Outra consequência grave, é a desvalorização completa da escola, como instituição formadora de futuros cidadãos adultos produtivos, já que levanta-se a questão de como convencer para a importância da formação educativa quando se pode ser youtuber com tremenda facilidade e sucesso garantido, sem ter de se sujeitar ao trabalho de estudar durante anos...

“Wuant, um dos mais influentes youtubers, a facturar mais de um milhão de euros por ano, como divulgou o Dinheiro Vivo no início de 2018.

Em casa de Sandra Marques, na zona de Leiria, o vídeo de ontem caiu que nem uma bomba. Maria, a filha de 11 anos, "chorou baba e ranho, ficou em pânico porque o Youtube ia acabar, porque o canal do Wuant ia fechar. Ela segue-o religiosamente, tudo o que ele diz é lei, e obrigou-nos até a ir pesquisar sobre o art.º 13, de que nunca tínhamos ouvido falar". Enfermeira de profissão, a mãe habituou-se a ver a filha muito mais ligada ao YouTube do que à televisão, ao contrário do que acontecera com o filho mais velho, agora com 16 anos. "Ela e as amigas também querem ser youtubers, porque tudo aquilo que eles lhes mostram é uma vida boa, em que o trabalho é prazer, é filmar e fazer paródias na internet, ganham todos imenso dinheiro e é como se estivessem sempre de férias", acrescenta.

Um dia antes o youtuber português tinha publicado um vídeo em que mostrava aos fãs a sua casa nova, que divide com a namorada, a (também) youtuber Owana. É o sonho de qualquer criança: espaços grandes e luminosos para jogar, ecrãs gigantes, máquinas de pipocas, de waffles e sumos. Uma piscina, terraço com bela vista, a vida que qualquer miúdo gostava de ter.” DN
 
(fonte: