A ambição escolar, o curto prazo e a confiança nos professores
A relação entre a qualidade da escola e a ambição escolar dos alunos é directa e proporcional. Embora sejam difíceis os estudos empíricos num assunto que exige modelos consolidados, é seguro afirmar que os alunos são decisivos.
A ambição escolar é tão determinante como as condições socioeconómicas. Como Portugal apresenta taxas elevadas de insucesso e abandono escolares, é natural que a desorientação, e a constante alteração de políticas, seja simultaneamente causa e consequência e se transforme em autofagia.
Há uma justificação no longo prazo se nos compararmos com países que eliminaram o analfabetismo no século XIX e onde a ambição escolar é inquestionável. Contudo, há variáveis importantes no curto prazo. É possível, por exemplo, erguer algo de significativo em meia dúzia de anos, numa escola ou num sistema escolar, ou destruir o que levou anos a construir.
E é também por isso que a confiança nos professores é tão determinante e preciosa como a ambição escolar dos alunos. É um requisito relacional decisivo. Para além de tudo, a desconfiança nos professores é intuída pelos alunos, desautoriza as salas de aula, prejudica o ensino, afecta todos os alunos e origina a escolha da escola pelos "mais informados". E é essa inaceitável segregação social que dificulta a redução do abandono escolar. A "miscigenação das diversas condições" é tão determinante para a elevação das escolas e dos sistemas escolares como é, em sentido lato, para o crescimento da decisiva classe média que fortalece a democracia.
Regredimos na última década e meia. Houve um choque de desconfiança nos professores evidenciada, desde logo, pela hiperburocracia. Se a avaliação de professores (uma falsa "meritocracia") e o estatuto do aluno (o "cliente tem sempre razão" não se pode aplicar à escola) estão na memória colectiva com efeitos negativos comprovados, o modelo de gestão escolar (um recuo já desaconselhado no século passado e que até os mentores mais optimistas reconhecem na aplicação a fragilização preocupante da atmosfera democrática) segue o mesmo caminho disruptivo; apesar de mais silencioso e menos mediatizado. São instrumentos fundamentais em que a actual maioria estranhamente não toca.
1ª edição em 10 de Maio de 2012.
Reescrito e em actualização.
Imagem do célebre "Clube dos Poetas Mortos"