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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

da falta de professores ao estado do século XXI

13.10.18, Paulo Prudêncio

 

 

 

Já faltam professores. Quando o inverno se impuser, e o cansaço se acumular, haverá falta de candidatos às substituições. Era previsível. Foi mais de uma década a descer. Sejamos claros: somos um país pobre (em grande parte por causa da "surpreendente dimensão" da corrupção - palavras da ex-PGR -, da "incomodidade" com a transparência e da desorganização), com baixos salários e com empregos pouco atractivos. Os jovens não têm alternativas internas e é também isso que alimenta alguma resiliência. Como agravante, o estatuto dos professores precarizou-se. O meio da carreira será o topo no futuro próximo e há todo um mar de desconsiderações. Olhe-se para os europeus que seguiram esse caminho.

Aliás, os professores são um exemplo para se perceber o esgotamento político do grande bloco central. A precarização teve um ideário comum. Os únicos cargos merecedores de um bom estatuto foram os de natureza política (para recrutar os "melhores") e os de topo das empresas, públicas e privadas, protegidas pelos estados.

Os EUA têm dois exemplos do inferno que se abateu sobre os professores. A mudança radical de posição de Diane Ravitch, ex-governante no tempo do 1º Bush, lê-se em duas obras preciosas: "O reinado do erro: A farsa do movimento de desestatização e o perigo para as escolas públicas da América" e "Vida e morte do sistema escolar americano: como os testes padronizados e o modelo de mercado ameaçam a educação". Mais recentes são os estudos que "desacreditam de forma inapelável" "o sistema de avaliação de professores patrocinado pela Fundação Gates e pelo "Obama Race to the Top": "baseou-se na avaliação de professores através dos testes padronizados aos alunos. O modelo remunerava eficazes e despedia ineficazes. Erraram em toda a linha. Prejudicaram os alunos, empurraram os melhores professores para fora da profissão e desencorajaram a candidatura dos jovens com melhores resultados. São responsáveis pela escassez de professores."

Klaus Schwab (2017:64) na "A Quarta Revolução Industrial", diz que "(...)os governos têm de se adaptar. O poder muda de agentes estatais para não estatais e de instituições estabelecidas para redes dispersas. As novas tecnologias e os grupos sociais e as interacções que promovem permitem que qualquer pessoa exerça influência de uma forma que seria inconcebível há poucos anos.(...)". Ou seja, se o século XXI assiste à eleição de potenciais ditadores com o voto de eleitores escolarizados, a explicação relacionar-se-á também com a exclusão e a precarização (a revolta e o desespero) como passos para o "não tenho nada a perder" (e, às tantas, para o "quanto pior melhor").

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Imagem: Paresh Nrshinga - Inspired by Mark Rothko