A influência de Ayn Rand no pensamento político nos EUA e outros países continua a ser forte e atual.
Egoísmo é uma palavra muito recente na história das civilizações. Vem da palavra latina “ego” para “eu” e constituiu pela primeira vez em 1751 uma entrada na Enciclopédia Francesa do Iluminismo. O significado inicial de egoísmo qualifica o comportamento das pessoas que se citam e falam muito delas próprias, das suas virtudes, da sua vida e do que lhes acontece. Este tipo de comportamento constituía uma forma de “vaidade, de soberba, de pequenez de espírito e, por vezes, de má educação”. Em Inglaterra, a palavra selfish só começou a ser usada no século XVII pelos Presbiterianos.
O egoísmo pode ser considerado de um ponto de vista descritivo ou normativo. No primeiro caso, temos a tese do egoísmo psicológico, segundo a qual a motivação de qualquer ação humana é sempre satisfazer o seu próprio interesse, mesmo quando alguns a possam interpretar como um exemplo de altruísmo. No segundo, o egoísmo ético é uma tese normativa na qual a condição necessária e suficiente para uma ação humana ser moralmente correta é maximizar o interesse próprio (Shaver, 2015). A defi nição de egoísmo racional obtém-se substituindo na definição anterior a expressão moralmente correta por racional. No Cristianismo e na tradição moral que legou ao Ocidente, ajudar os outros, especialmente os pobres, os famintos, os doentes e os abandonados, ou seja, praticar aquilo que mais tarde, em 1852, Auguste Comte designou por altruísmo, é considerado uma virtude redentora. Ao longo da história do Ocidente vários filósofos e teólogos salientaram ser racional o homem procurar o que lhe é útil e dá felicidade. Thomas Hobbes, na sua teoria sobre a natureza e a moralidade humanas, fortaleceu a afirmação do egoísmo na cultura Ocidental. Segundo ele, o homem é essencialmente uma criatura selfish, quezilenta e agressiva, pelo que apenas um Estado forte pode evitar uma “guerra de todos contra todos”. Hobbes foi o primeiro a defender que todo o comportamento humano é, em última análise, selfish, ou seja, a defender a teoria do egoísmo psicológico.
Alissa Rosenbaum, que mais tarde adotou o nome de Ayn Rand, nasceu em São Petersburgo numa família judia burguesa no ano de 1905. Desde muito cedo revelou uma extraordinária aptidão para escrever peças de teatro e novelas. Aos 12 anos assistiu à Revolução Russa e passados poucos anos os dirigentes bolcheviques confiscaram o negócio e os bens da família Rosenbaum, que fugiu para a Crimeia, onde viveu com grandes dificuldades e passou fome. Aos 20 anos conseguiu um visto para visitar familiares em Chicago e ao ver Manhattan do barco chorou, reconhecendo mais tarde serem “lágrimas de esplendor”. A sua visão política do mundo consolidou-se após a Grande Depressão de 1929, ao considerar as políticas de reformas financeiras e de programas de desenvolvimento do New Deal como uma forma de “coletivismo”, logo uma perigosa imitação do bolchevismo ao qual se opunha visceralmente.
As teorias que desenvolveu podem ser interpretadas como um esforço de justificação moral de uma política que literalmente inverte o Marxismo. Neste, os trabalhadores produzem todo o valor enquanto os capitalistas sugam os resultados do seu trabalho. Na análise de Ayn Rand, exposta nos seus livros de grande sucesso The Fountainhead (1943) e Atlas Shrugged (1957) (publicado pela primeira vez em Portugal em 2017 sob o título A Revolta de Atlas), os capitalistas são empresários com qualidades notabilíssimas de liderança, iniciativa e inteligência que criam riqueza para toda a sociedade, enquanto os trabalhadores das respetivas empresas beneficiam dessa riqueza, e viveriam muito pior se abandonados a eles próprios.