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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

dos exames e das desigualdades

31.01.18, Paulo Prudêncio

 

 

 

"Apenas os jovens do agrupamento de escolas público pior classificado no ranking afirmaram não recorrer a explicações porque “a sua condição socioeconómica não lhes permitia”, conclui ainda o estudo.

O que a realidade nos mostra, é que é um imperativo de consciência treinar os alunos para que "tudo tenha sido feito" na tal décima que pode faltar no sacrossanto acesso ao superior; e isso influencia o sistema desde a entrada na escola. Aliás, as crianças já integraram as explicações como uma rotina tão óbvia como a frequência escolar e o "impensado" de as sujeitar a quadros de mérito, e a outras publicitações semelhantes, sobrecarrega a competição e acentua uma teia "invisível" de conflitualidade, indisciplina e desigualdades.

É um universo tão tristemente contraditório, que nem se trata de discutir se os alunos aprenderão mais com tecnologias e interdisciplinaridades. Só em escolas sem secundário, ou que, tendo-o, grande parte dos alunos não se imagina no ensino superior, é que há espaço para reduzir o treino disciplinar em favor de uma suposta "escola do século XXI" (um sombrio século XXI, se ficasse apenas por estes espaços). E mesmo aí, a máquina do ME, e a hiperburocracia dos excessos das ciências da educação cruzada com os atavismos das ciências da administração, tenta de imediato eliminar qualquer ousadia com uma pesadíssima quadratura do círculo que nos devia envergonhar.

 

Já usei esta argumentação em inúmeros posts.

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da indisciplina escolar

30.01.18, Paulo Prudêncio

 

 

 

Qual é o país da OCDE onde os professores perdem mais tempo com a disciplina para começar uma aula? É Portugal, onde existem inúmeras salas de aula em que "reina a "pequena indisciplina"". E não saímos disto, com o discurso circular de "especialistas" (em 07 de Fevereiro de 2017) a culpar "mais os professores do que os alunos". E se procurássemos, definitivamente, outras culpas? Um ano depois, olhemos para as componentes críticas e para o que foi feito.

Sumariemos: escola "armazém", como resultado da sociedade ausente; aluno-cliente como negação dos elementares princípios docimológicos (não tarda e a publicitação da calendarização de testes chega ao primeiro ciclo para que um petiz convoque os advogados porque o professor o submeteu a um questionário de avaliação sem calendarização; isto sim, o nefasto "facilitismo"); uma década de devassa, mediatizada em primeira página, da carreira dos professores; indústria da medição, com os respectivas pautas e quadros de mérito para os resultados de crianças (é a preparação para a selva, dizem "especialistas da ordem contrária"); "supressão" de intervalos escolares; aulas de noventa minutos como receita do 5º ao 12º ano e em todas as disciplinas; mais alunos por turma; mais turmas por professor; terraplenagem do estatuto da carreira dos professores; agrupamentos de escolas com organograma "impensado" e com aumento da hiperburocracia como factor ilusório de controle; legislação de disciplina escolar na lógica de um "tribunal dos pequeninos"; e por aí fora. Se nada de moderado, sensato e democrático acontecer, daqui por uma década voltaremos, seguramente, ao mesmo e, obviamente, aos culpados do costume.

 

Já usei esta argumentação noutros posts.

Do professor e da centralidade

29.01.18, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

Surprende como, ciclicamente, se assume o afastamento do professor da centralidade do processo de ensino e aprendizagem. No século XVII, por exemplo, procuravam-se novos recursos didácticos mas sempre com o professor dentro do espaço central. Aliás, foi com a célebre "Lição de Anatomia do Dr Nicolaes Tulp" (1632) que Rembrandt se apresentou, e se afirmou, em Amesterdam. Se atentar, verá que os alunos deixaram de estar alinhados e que o seu olhar divergia: para o professor, para o livro aberto, para o objecto de estudo e até para a "objectiva". E claro: todos estavam iluminados mas muito atentos, como que a sublinhar que na pedagogia há intemporalidades que é fundamental que sobrevivam aos modismos.


Imagem:
Rembrandt van Rijn, The Anatomy Lesson of Dr Nicolaes Tulp, 1632
Museu Mauritshuis, Haia, Agosto de 2017

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"O Amante de Um Dia"

28.01.18, Paulo Prudêncio

Leia devagar e convoque a memória

28.01.18, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

Leia devagar, sff, e adivinhe quem fez as declarações seguintes antes de encontrar a solução no último parágrafo.

  1. “Não é preciso ser altruísta para apoiar políticas que elevem a renda dos pobres e da classe média já que todos beneficiarão. São políticas essenciais para gerar crescimento mais alto, mais inclusivo e mais sustentado. Portanto, um crescimento duradouro exige que seja mais equitativo."
  2. "Novos estudos demonstram que a subida em 1% da renda dos pobres e da classe média aumenta até 0,38% o crescimento do PIB em 5 anos. Em contrapartida, elevar em 1% a renda dos ricos reduz o crescimento do PIB em 0,08%. As nossas constatações sugerem que – contrariando a sabedoria popular – os benefícios da renda mais alta "espalham" para cima e não para baixo. Para além de outras variáveis, os ricos gastam uma fracção menor da renda e isso reduz a procura agregada e enfraquece o crescimento. Também se demonstra que a desigualdade excessiva de renda reduz o crescimento económico e torna-o menos sustentável."

São declarações de Christine Lagarde, em Junho de 2015 (Bruxelas), baseadas no boletim oficial do FMI de 17.06.2015 que integra o estudo (FMI"Causes and Consequences of Income Inequality: A Global Perspective". Se Maquiavel estivesse por cá, explicaria: "disse ao Príncipe: faz a maldade toda em pouco tempo e depois confessa-a; afirma-te neoliberal no início e social-democrata para sempre no fim; confia na sabedoria popular."

Notas:

1ª edição deste post foi em 04.02.2016. Esta 2ª edição deveu-se ao acontecimento em imagem (@Luís Reis Ribeiro do dinheiro vivo). Em Davos, no recente 24.01.2018, "Lagarde diz a Costa e Centeno que Portugal é um excelente exemplo". Convenhamos que é preciso descaramento. É claro que não se deve desprezar o pagamento antecipado da parte mais onerosa da dívida.

 

Repeti este post com alguns ajustamentos para o partilhar noutras redes sociais.

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da existência de professores

25.01.18, Paulo Prudêncio

 

 

 

Enquanto existirem professores, haverá cargas genéticas e componentes ambientais a influenciar estilos de ensino. Se o professor quiser que os alunos o ouçam, recorrerá a um estilo de comando ou directivo. Se organizar os alunos por grupos, irá da avaliação recíproca aos pequenos ou grandes grupos e se pretender que os alunos encontrem uma solução pode ir pela resolução de problemas, atribuição de tarefas ou descoberta guiada.

Não é avisado misturar a docimologia e as técnicas de ensino, que são, a par do conhecimento científico, os patrimónios dos professores, com correntes ideológicas. E nada disto significa que na Educação não haja disputa ideológica. Pelo contrário. Só que, e vezes a mais como se tem comprovado, as ideias não coincidem com as acções e muito menos com os resultados.

 

(Já usei esta argumentação noutros posts)

 

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Para ler devagar

23.01.18, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

Leia, sff, e tente adivinhar quem fez as declarações seguintes antes de encontrar a solução no parágrafo final.

  1. “Não é preciso ser altruísta para apoiar políticas que elevem a renda dos pobres e da classe média. Todos beneficiarão. Essas políticas são essenciais para gerar crescimento mais alto, mais inclusivo e mais sustentado. Ou seja, para se ter crescimento mais duradouro será necessário gerar crescimento mais equitativo."
  2. "Novos estudos demonstram que elevar num (1) ponto percentual a parcela da renda dos pobres e da classe média aumenta o crescimento do PIB dum país até 0,38 pontos percentuais em cinco anos. Em contrapartida, elevar num (1) ponto percentual a parcela da renda dos ricos reduz o crescimento do PIB em 0,08 pontos percentuais. Nossas constatações sugerem que – contrariando a sabedoria popular – os benefícios da renda mais alta "espalham" para cima e não para baixo. Para além de outras variáveis, constata-se que os ricos gastam uma fracção menor da sua renda o que reduz a procura agregada e enfraquece o crescimento. Os nosso estudos anteriores demonstram que a desigualdade excessiva de renda reduz, na verdade, a taxa de crescimento económico e torna-o menos sustentável com o tempo."

São declarações, em Bruxelas, de Christine Lagarde, em Junho de 2015, baseadas no boletim oficial do FMI de 17 de Junho de 2015 que integra o estudo, também de Junho de 2015 e do mesmo FMI"Causes and Consequences of Income Inequality: A Global Perspective". Se Maquiavel estivesse por cá, teria explicação: "disse ao Príncipe: faz a maldade toda em pouco tempo e depois confessa-a; sei lá: afirma-te neoliberal no início e "social-democrata para sempre" no fim; confia na sabedoria popular."

 

2ª edição.

1ª edição em 04 de Fevereiro de 2016.

 

Nota: Davos (24.01.2018): "Lagarde diz a Costa e Centeno que Portugal é um excelente exemplo".

 

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da democracia na escola: entre o passado e o futuro

22.01.18, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

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A confiança nos professores, e na sua autoridade enquanto educadores que transportam saberes nucleares, tem um relação decisiva com o futuro da democracia e com as boas aprendizagens dos alunos. A liberdade de aprender e ensinar é um direito inalienável para alunos e professores e há história suficiente para eliminar equívocos quanto aos efeitos. Há um património docimológico com exigências democráticas. É surpreendente que, na ânsia do controlo das salas de aula e num exercício de nivelamento por baixo (ou seja, constroem-se procedimentos centrados na "caça aos desvios", arrasta-se a organização para esse nível e elimina-se a ousadia), sejam os professores a dar corpo à conjugação obsessiva de verbos destinados ao controle burocrático e à consequente crise através do clima de faz de conta.

“(...)uma crise na educação suscitaria sempre graves problemas mesmo se não fosse, como no caso presente, o reflexo de uma crise muito mais geral e da instabilidade da sociedade moderna.(...)”.

Arendt, H. (2006:195).

Entre o passado e o futuro.

Oito exercícios sobre o pensamento político.

Lisboa: Relógio D´Água.

partir da experiência

20.01.18, Paulo Prudêncio

 

 

 

“Para isso é preciso partir da experiência, não daquela que se confunde com o precipitado do “real” na memória dos indivíduos, mas da experiência que está cristalizada no estado de coisas existentes.”

 

 

 

Miranda, J. (1997:32).

Política e modernidade. Linguagem e violência

na cultura contemporânea.

Lisboa: Edições Colibri

 

a certa altura

19.01.18, Paulo Prudêncio

 

 

 

"(...)A certa altura, a jornalista pergunta a Bragança de Miranda se ele nunca quis ser artista. O entrevistado diz uma série de coisas sobre o seu percurso pessoal e profissional e termina assim: "Felizmente, veio a Revolução que acabou com todas essas ilusões." Porquê, diz a jornalista?: "Porque a Revolução era bem mais importante. E foi um momento fantástico que só quem o viveu pode verdadeiramente perceber. Quem não teve a sorte de ter vivido o 25 de Abril tem que se contentar com os mundiais de futebol."(...).

 

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generalizar a flexibilização curricular

18.01.18, Paulo Prudêncio

 

 

 

A flexibilização curricular, ou interdisciplinaridade, nunca se impôs institucionalmente por causa de "impossibilidades" organizacionais. A hiperburocracia (também a digital) revelou-se a principal componente crítica. Foi assim nas experiências de 1989 e 1998 e há sinais de repetição, como alguém, numa experiência em curso bem a norte, relatou num email:

"(...)as nossas avaliações são sempre muito positivas. Confunde-se crítica a um processo com má opinião sobre organizações e profissionais num ambiente de clubite. Cria uma ilusão fatal. Os relatórios e inquéritos ouvem pessoas condicionadas, desinteressadas ou com medo de expressar uma opinião crítica.(...)"

É evidente que as avaliações no sistema escolar não são tão fatais como noutros universos. Os célebres helicópteros Kamov passaram sem mácula nas listas de verificação e quando Pedrógão ardeu nem sequer descolavam; ou o BES atingiu nota máxima nos testes de stress e dias depois faliu deixando centenas de pessoas sem as poupanças de uma vida; ou ainda, e como se viu no último prós e contras, há urgências de hospitais públicos com relatórios recomendáveis e com "uma realidade comparada a países de terceiro mundo; em guerra" (dito em directo por médicos e enfermeiros com conhecimento dos dois cenários e sem a discordância dos dirigentes presentes). E é preciso coragem para discordar. É muito triste, mas é assim.

Ou seja, as escolas podem generalizar com base em experiências recomendadas (será grave se conjugarem com obsessão os verbos reunir, articular, registar, normalizar e quiçá imprimir e observar em "pares de oportunidade") que a implosão organizacional pode ser novamente uma questão de tempo.

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do bem e do mal

17.01.18, Paulo Prudêncio

 

 

 

"(...)Há o bem e o mal, e há uma categoria intermédia que é o Mal tolerado. Há um cinismo inconsciente, que é necessário à vida. É o que eu chamaria o intolerável tolerado. Mas agora isso tornou-se num cinismo demasiado visível, que tomou conta do espaço público, é ubíquo. Essa transparência, visibilidade do intolerável, pode levar, a longo prazo, a que o sistema mude a partir do interior, por acção de uma outra categoria, que competiria com a da ganância: a vergonha. Agora já não é possível esconder a podridão moral da sociedade, por pura vergonha. Mas enquanto isso não acontece, os jovens não podem mais viver com esse Mal intermédio. Querem afirmar-se. Não é por ressentimento, ou impulso de destruição, castigo ou vingança. É uma indignação contra a intolerabilidade do Mal mediano.(...)"

 

José Gil, Pública,

4 de Março de 2012, pág. 24.

 

do estado dos rankings

16.01.18, Paulo Prudêncio

 

 

 

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Já se "decreta" o fim dos rankings. No mínimo, há um atraso. É notório o consenso sobre a inutilidade dos rankings clássicos (sem a variável sócio-económica) como instrumento científico. Limitavam-se a concluir o óbvio e a plasmar os mesmos resultados anos a fio com subidas ou descidas de uma décima por ano ou disciplina. Há muito que se sabe: grandes oscilações de resultados representam sempre mudanças significativas no tecido social. Mesmo os rankings mais recentes, com a dita variável, revelaram-se um logro. Em ambos os casos, serviam privados que ocultavam os dados sócio-económicos e que financiavam os estudos como publicidade destinada a comparar o incomparável. É até surpreendente como ainda se realizam, nos diversos patamares escolares, estudos sobre resultados dos alunos sem usar variáveis dependentes e independentes. Repetem-se análises primárias de dados com conclusões rudimentares e redundantes (como os rankings inventados em Portugal). Há muito que a estatística aplica modelos de regressão linear múltipla ajustados aos dados seleccionados (é reconhecida a aplicação IBM SPSS Software; lançada em 1968, é "acessível a todos os níveis de habilidade e a projectos de todos os tamanhos e complexidades") que deveriam fazer escola a partir dos serviços centrais do ME. Que o centralismo tivesse alguma utilidade, digamos assim.

Do perfil do aluno

15.01.18, Paulo Prudêncio

 

 

 

Parece-me aceitável uma discussão abrangente do perfil do aluno. Aliás, um algoritmo sensato exige um perfil com mais de 60% de responsabilidade para a sociedade. A percentagem escolar engloba currículos que foram afunilados principalmente com a troika - mas também antes disso - e que tardam a recuperar uma carga equilibrada.

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