é mais agitação
Luís Afonso
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Luís Afonso
"Ter uma carreira" passou a politicamente incorrecto no final do século passado e as "novas políticas de gestão pública" corporizaram a precarização. Há uma geração, hoje na casa dos quarenta, que começa a duvidar da bondade do conceito. Os jovens adultos aceitam e assumem a ideia até que a idade avance. E por que é que falo de gerações? Exactamente porque os que iniciaram a dúvida perceberam que são descartáveis e substituíveis pelos mais jovens com argumentos financeiros ou de imagem. A precarização retira rede quando ela se torna imperativa. Para além do que foi dito, será grave que as administrações públicas continuem a perder pessoas integradas em carreiras que exigem histórico de saberes e maturidade nas decisões.
"Mais quase 10 mil estudantes conseguiram um lugar no ensino superior". É uma boa notícia e ponto final.
Ficaram professores por colocar? Sim; em poucos grupos de recrutamento (uma modernice vocabular recente e evitável) é um facto. Mas uma passagem pelas listas dos professores não colocados ou de reservas de recrutamento, regista um número reduzido (ou ausência) de candidatos para várias disciplinas. É uma tendência que se agrava e que abrirá telejornais. Com a "eterna" precarização dos professores contratados (há quase duas décadas nos vínculos e salários) associada ao estatuto de cobaia na avaliação kafkiana (e de moeda de troca entre governos e sindicatos) e passando por um processo de desconsideração profissional, é natural que os jovens desistam de "ser professor" e que os menos jovens optem por outra actividade no país ou no estrangeiro.
PS: se nada se fizer no estatuto dos professores do quadro, as condições de aposentação associadas ao burnout provocarão uma avalanche de insubstituíveis. Aliás, basta que o inverno se imponha.
Imagem obtida na internet
sem referência ao autor
Se é difícil a soberania de um Estado europeu, como será com uma soberania europeia? A encruzilhada do velho continente tem uma estreita e histórica relação com a paz. A ideia de igualdade é o algoritmo a recuperar. Nas democracias há saudáveis grupos de contestação, mas não existem instrumentos capazes de institucionalizar o algoritmo.
Tem sido um milénio de crispação política e nada fácil para os espíritos mais livres. "Não fica bem" desalinhar nem concordar, mesmo que pontualmente, com o que existe. A vida portuguesa é também um bom exemplo. Se se via a irritação à esquerda com a presença do CDS, viajando de táxi, no mainstream, percebe-se agora que a direita está inconsolável com a possibilidade deste Governo, com um apoio parlamentar inédito, ser bem sucedido. Percebe-se o temor com a severidade do julgamento histórico, já que a direita aproveitou a presença da troika para se radicalizar. Para além disso, e sempre que não se está seguro do valor da obra, cresce a desorientação com a possibilidade da sucessão negar "o que se seguirá bom de mim fará".
PS: é evidente o descontrole da malta dos salões com a habilidade política dos "descamisados". Chega a ser risível assistir à intolerância com a possibilidade de oportunidade política do lado mais à esquerda da sociedade.
Um vídeo esclarecedor:
Ouvi, durante uma viagem, a entrevista do ministro da defesa na TSF. Fiquei com má impressão com o discurso palavroso e infantilizado. Não admira que: "Relatório das Secretas Militares sobre Tancos arrasa ministro. Gestão de Azeredo Lopes foi de “ligeireza, quase imprudente”, lê-se no documento. General Rovisco Duarte assumiu a responsabilidade mas “não terá tirado consequências”. Os dez cenários para o que aconteceu. António Costa dá puxão de orelhas a deputados". E continuo a não me surpreender com as interrogações: "em Tancos prevaleciam os impossíveis inventários analógicos que, na escassez de meios humanos, nem as munições consumidas em instrução absorviam? E querem ver que isso ajeitava a prática antiga do suplemento salarial à custa de desvios? E querem ver que os paióis albergavam material obsoleto? E querem ver que a sofreguidão da democracia mediatizada associou-se ao "on bullshit" em mais um caso para a espuma dos dias?"
Era uma folha pousada
no cotovelo do vento;
e pairava, deslumbrada,
entre morte e movimento.
Era uma folha: lembrava,
de tão frágil, o momento
em que a vida ficava
escrava do teu juramento.
Era uma folha: mais nada.
Antes fosse esquecimento!
David Mourão-Ferreira
Obra Poética
1948-1988
Editorial Presença (2006,p:109)
"Grande adesão das pessoas", achou o candidato. "Pudera! Não te candidatas pelo PAN", observou um espectador de ocasião.