da auto-estima
(Este texto não é inédito. Foi reescrito.
O original foi publicado neste blogue
em 27 de Maio de 2004)
Não foi fácil. Só ao terceiro encontrei a auto-estima. Passei pelo que estava mais à mão, o da Porto Editora, um só volume, e nada. Fui ao grande dicionário da língua portuguesa, do Círculo de Leitores, seis volumes, e zero. Não desisti. Recorri ao Houaiss da língua portuguesa, também do Círculo de Leitores, seis volumes, seguramente os mais pesados e por isso ficaram para o fim, e lá encontrei: "qualidade de quem se valoriza, de quem se contenta com o seu modo de ser e demonstra confiança nos seus actos e julgamentos".
A minha dúvida não estava tanto no significado. Situava-se mais na questão da palavra composta o ser por justaposição ou por aglutinação; ter ou não hífen. Neste caso tem, porque, e muito justamente, o sujeito até pode não se estimar.
Ouvi (em 27 de Maio de 2004) uma notícia surpreendente: um conjunto de sábios, afectos à maioria que nos desgovernava na altura, discutiu o porquê da baixa auto-estima dos portugueses. O painel incluiu: Marcelo Rebelo de Sousa, Clara Ferreira Alves, Vasco Graça Moura e António Borges (foi a primeira vez que ouvi falar do último, um empresário bem sucedido). Depois da mesa-redonda (por justaposição porque existem mesas que não são redondas), a auto-estima dos conferencistas subiu em flecha. Uns anos depois entrámos em bancarrota e treze anos após a discussão de sábios ainda andamos à volta de dívidas sem fim e a auto-estima continua irregular.